Uma das coisas mais interessantes que já inventaram foi o tal do apelido. Alguns preferem ser chamados por ele. Outros brigam, se gritarem aquele nome esquisito. O fato é que não existe uma única cidade onde ele não esteja. A seguir, entrevistamos alguns santa-ritenses conhecidos pela alcunha e contamos a história de como os seus nomes ficaram perdidos nas curvas do tempo.
“Eu ganhei o apelido quando ainda estava no pré-escolar, lá no Grupão. Como era o menorzinho, colocaram em mim o apelido de Purguinha. No começo, brigava, chorava e ficava injuriado, mas depois acostumei. Possivelmente, o nome pegou por eu ter ficado bravo. Hoje, meu filho adotou o apelido e todos o conhecem como Purga. Uma vez, recebi um convite de casamento e estava escrito: ‘Para o senhor Purguinha e família.”
Antônio Carlos – O Abacaxi
“Quando era criança, estava com o meu irmão brincando na porta de casa, enquanto o meu pai negociava gado. Nisso, chegou um homem com um carrinho, oferecendo mandioca e abacaxi pra turma que estava lá. O Dirceu Salameiro, filho do Pedro Sordado, achou interessante e passou a me chamar de Abacaxi e o meu irmão de Mandioca. No começo eu não gostava muito, mas acabei me acostumando com a ideia.”
“Quando eu tinha uns doze anos, entregava mortadela para o meu primo José Geraldo, que trabalhava na padaria do Zé Padoia. Um dia, um rapaz que jogava bola comigo, o Aroldo, que mora perto do hospital, me viu de bicicleta e me chamou de Mortadela. O tempo passou, eu me mudei de Santa Rita e, quando voltei, ninguém se lembrava mais do apelido. Quem fez o favor de lembrar foi o Luiz Carlos Carneiro, que começou a me chamar de Mortadela no trei-no de futebol dos veteranos e todo mundo entrou na dele.”
“Eu tenho esse apelido desde que nasci. Quem o colocou foi a minha avó, Benedita. Eu era muito pequeno e, por causa disso, ela só me chamava de Pituquinha. Na escola, lembro que a professora sempre dizia para não chamarmos os colegas de apelido, mas ela não conseguia se lembrar do meu nome verdadeiro. Só me chamava de Pituquinha.”
“Eu sou o Sapinho, filho do Biju. Quando jogava bola, era só encostar que eu pulava no chão. Um dia, uma moça chamada Toninha, mãe de dois meninos que jogavam na escolinha, viu a cena e começou a me chamar de Sapinho. De lá pra cá, ninguém se lembra mais do meu nome. Até meus pais me chamam pelo apelido. Aqui na empresa onde eu trabalho, a Enterplak, eu organizei uma biblioteca e não demorou para que pusessem o nome de ‘Sapoteca’. Até plaquinha tem.”
Manuel Costa – O Mané Pinga
“Quando fui estudar em Lavras, em 1960, preparei uma de minhas malas com duas ou três calças e diversas garrafas de pinga. Quando cheguei à escola, os veteranos vieram me dar trote e ameaçaram mexer nas minhas coisas. Ao abrirem a mala, eu disse: ‘Nessa aí ninguém coloca a mão!’ Foi então que eles perceberam que deveria ter algo interessante e resolveram olhar. Daquele dia em diante, fiquei conhecido como Mané Pinga. O apelido permaneceu em Lavras até que o Carlos Alfano esteve lá e ficou sabendo. Desde então, o nome veio para Santa Rita e acabaram esquecendo que eu me chamava Manuel. Até hoje, quando perguntam o motivo do apelido, brinco que é porque eu gosto muito de leite. No Alambique do Nego do Ozório, meus amigos costumam ir fazer compras e pedem ‘a pinga que o Mané pega.’”
“Se não me engano, quem colocou esse apelido foi o Léo Bacon. Ele inventou isso por causa da minha postura no contrabaixo. Como eu sou magro e toco balançando o pescoço, ele começou a me chamar assim. Tenho tido muita felicidade de me chamar Ganso, por conta do jogador de futebol. Antes de namorar, o fato de ele estar em alta me ajudou muito na arte da sedução.”
Luiz Roberto – O Pingo
“Meu apelido surgiu quando ainda era criança e morava com meus pais, em Barretos. Como era muito pequeno, uma senhora começou a me chamar de Pingo e o apelido pegou. Na década de 70, quando fui estudar em Belo Ho-rizonte, precisei fazer uma ligação telefônica, numa época em que os telefonemas eram feitos em Centrais Telefônicas e aconteceu um caso interessante. Eu disse à telefonista que queria fazer uma ligação a cobrar para a minha mãe e ela perguntou o meu nome. “Fala que é o Luiz Roberto.” – eu disse a ela. Quando a minha mãe foi informada de que um tal Luiz Roberto queria fazer uma chamada a cobrar, respondeu: “Não conheço ninguém com esse nome, não.” Eu precisei explicar que era o Pingo, para que ela lembrasse.”
Wanderlei – O Vampeta
“Meu apelido veio antes do Vampeta do Corinthians. É da época em que eu jogava na escolinha do Aleluia. Como eu tinha o dente quebrado na frente, o Beto começou a me chamar de Vampiro e Capeta, até que juntou os dois e virou Vampeta. Hoje, as únicas pessoas que me chamam de Wanderlei são minha sogra e o Chiquinho (Xikos Lanches). Pena que custa caro, senão eu faria que nem o Pelé e a Xuxa: colocaria Vampeta no meu nome.”
“Isso foi obra das minhas irmãs, mas elas não se lembram por que me chamam assim. Um dia, cheguei a perguntar para o meu pai sobre o porquê desse apelido, mas ele também não sabia. De uma coisa eu tenho certeza: não tem nada a ver com a marca de cueca. Soube que apareceram outros Zobinhas na cidade, mas gostaria de registrar que fui o primeiro. No futuro, pretendo colocar o apelido no meu nome. Vou me chamar Carlos Roberto Zobinha Brandão.”
Luiz Eduardo Garcia Borsato – O Perê
“Quando eu era menino, fui hiperativo. Eu ficava sempre inquieto, correndo para lá e para cá e colocaram-me o apelido de Perereca. Eu não gostava e, talvez por isso, o apelido pegou. Com o tempo fui me acostumando. Certa vez, quando me tornei bancário, liguei para um cliente e ele só me reconheceu quando disse que era o Perereca. Com o tempo, o apelido evoluiu para Perê e passou a ser uma forma carinhosa com que as pessoas se referiam a mim. Um fato curioso foi que fizeram uma gincana no Feirão Folclórico e pediram para a criançada encontrar a pessoa com o apelido mais famoso da cidade. Na hora em que perguntaram quem me conhecia, todos se manifestaram e a escola que eu representei foi a vencedora.”
“Na juventude, eu jogava bola em Amparo junto com o Jander, o Niquimba e o La Bruna. Nessa época, tomei um chute, quando caí, e perdi os 3 dentes da frente. Como a minha boca inflamou e ficou inchada, um rapaz que jogava com a gente disse que eu estava parecendo o Bugalu, personagem do Programa Viva a Noite. O apelido pegou tanto que, hoje, se você perguntar do José Romildo lá em casa eles vão dizer que não conhecem ninguém com esse nome. Hoje, o Brasil inteiro me conhece assim. Até no meu cartão de visita está escrito Bugalu.”
Cleber Miranda – Crima
“No tempo do colégio, descobriram que o nome do meu pai era Clemenceau e acharam, no mínimo, curioso. Daí, o Zaga, piadista que sempre foi, começou a me chamar de Crimançô. Com o tempo, eles reduziram o apelido para Crima e, mais tarde, resolveram sofisticar: virou Krymmah. Alguns figuras, até hoje, só me chamam pelo apelido. Mas o rei dos apelidos era o Caquinho (Luiz Carlos). Metade dos apelidos do povo, lá no morro do José da Silva, foi ele quem colocou: Gambá, Peru, Macarrão, Jacaré, Caçapa, Brejeira, Paulinho Caganeira – foram todos criados por ele.”
“Este apelido surgiu quando eu tinha 8 anos. Nessa épo-ca, eu jogava bola em um terreno onde hoje mora o Jader. Um rapaz chamado Orlando Costa de Almeida me viu correr no campo e disse que eu parecia movido a gasolina. A molecada gostou da brincadeira e também começou a me chamar assim. Um dia, já estava morando em Ribeirão, quando escutei: ‘Ô Gasolina!’. Logo percebi que se tratava de alguém de Santa Rita. Eu até gosto de ser associado com o apelido. Se eu falar meu nome, ninguém sabe.”
João Donizete – John
“Este nome, eu mesmo coloquei em mim. Quando fui abrir meu salão de cabeleireiro, tinha um outro rapaz que estava abrindo também e tinha o mesmo nome. Além dele, havia também o João, irmão do Ercílio, na mesma rua. Daí eu vi na televisão uma reportagem dizendo que muitas celebridades mudavam de nome para se dar bem na carreira e resolvi fazer o mesmo.”
Reinaldo Amaral – O Galinho
“Eu ganhei esse apelido com 10 anos de idade. Como sempre fui Atleticano, o Furinho, que era meu tio, começou a me chamar de Galinho e o apelido pegou. Para se ter ideia de como a coisa ficou séria, de lá pra cá, só a minha mãe ainda se lembra do meu nome. A minha esposa só me chama de Reinaldo, quando está muito brava.”
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