Fazer 60 anos não é somente festejar! É, principalmente, celebrar!
No dia 11 de maio de 1982, passava o caixão de Dona Marlene na E. E. “Sanico Teles”.
Tudo estava ao chão…
Sons de clarins se misturavam às lágrimas…
Tristeza…
Despedida…
Mas a semente, o broto de um sonho germinava.
Um projeto! A realização de um sonho de uma diretora.
O grupinho de lata foi criado para atender às crianças dos bairros próximos e também aos moradores da zona rural.
Cantineiras: Dona Francisca, Dona Benedita do Barbosa e muitas outras…
Atraídos pelo cheiro da sopa, tal qual o aroma de pipoca nos portões do circo, as crianças adentravam para assistir ao futuro.
Professoras: Dona Rita Sêda, Dona Ruth Alves, Dona Cilézia, Dona Rutinha, Dona Cida de Cássia, Dona Regina Gláucia (filha do Capitão Paulo), Dona Marli de Castro, Dona Wilma Pivoto e muitas outras tantas… Gratidão eterna.
A magia acontecia… O espetáculo do saber! Não era somente cuspe e giz. Não era um circo pobre, de lonas furadas.
Os recursos audiovisuais já existiam: criatividade/boa vontade.
Histórias, lendas, contos de fadas, fantoches, dramatizações, bailados, reis e rainhas, “a fanfarra do Sanico”, um festival de guaraná, um monte de sorvetes.
A imaginação e a didática se misturavam harmoniosamente e o resultado era perfeito, herança da professora Alice Teixeira.
Mágicas fadas – intérpretes do saber.
Havia metodologia – condução didática. Havia objetivo – incluir – capacitar – aprender a ser – virar gente (como outrora se dizia). Mas havia um componente essencial: o amor, válvula propulsora para esse espetáculo de cognição acontecer. Esse ato pedagógico era transformador – afeto em gesto – vidas em letras.
Pé no chão? – Não!
Barriga vazia? – Muito menos!
Frio? – Nem senti!
Chorar? – Por quê?
As professoras não eram “tias”, eram anjos, mestres, doutores, eram homens, eram mulheres, eram profissionais. Acertaram muito mais do que erraram. Eram sempre somados – nunca diminuídos. Valorização dos profissionais.
Dona Maria Garcia (primeira diretora), Dona Marlene Garcia, Dona Maria Heloísa de Almeida, mãos hábeis a esculpir um novo rumo aos Santa-ritenses. Valentes, obstinadas, guerreiras incansáveis, travaram um bom combate – foram vitoriosas! Grandes mulheres, bravas mulheres, professoras, mulheres, vocês fizeram história. Nosso reconhecimento!
O grande circo de metal azul claro, tal qual uma turquesa preciosa, ficava pequeno. O brilho do olhar do nosso educando – pilar de nossa práxis – sujeito deste ato político pedia mais, pedia bis.
Novas expectativas – ampliação, mudança. O grupinho de lata não enferrujava. Novas salas, novos alunos, novos professores, novos funcionários.
Festas juninas, mastros erguidos aos santos, promessas, doações, rifas e manjares, feijão preto gourmetizado por Dona Jandira Garcia, se transformavam em concreto para o tempo que amanhecia em Santa Rita. A comunidade crescia – 1970… Novos dias, o tempo passava.
As crianças crescem, infelizmente. As crianças envelhecem. E para crescerem felizes é necessário que haja escola – espaço perfeito para o crescer. A escola é o recipiente da vida comunitária.
4ª série concluída! Parabéns – formatura!
E agora, Josés? Marias, Marias? Para onde?
Vagas? Continuidade? Direitos? Futuro? Oportunidade? Dignidade?
Dona Marlene Garcia não dormia. Sonhava mais e mais. O tempo lhe batia às portas.
Idas e vindas, viagens intermináveis, labuta e fé. Mangas arregaçadas e coração sangrando pela vida doente que ela levava, não maltrataram suas esperanças. A doença e a tristeza não foram capazes de desfazer suas quimeras. Ao contrário, incansável, inesgotável, retornava ao leme de sua grande nau. Voltava como Fênix, alçando novas acrobacias… O show não podia parar.
Existia um novo amanhecer, uma nova cena. O grupinho de lata foi tão polido, tão amado que se transubstanciou, ficou d’ouro.
Sua luz, seu brilho, foram tão fortes que iluminam e aquecem a muitos até hoje. Sua obra será sempre lembrada por todos. O tempo não será capaz de interditar esta grande obra, nem apagar os seus sonhos.
“Se depressa marcha a vida, mais depressa deve marchar a escola. Eu quero uma escola grande para acolher todos os meus e nossos grandes alunos. Eles merecem toda sorte e todo bem”, disse Dona Marlene.
Mas ela não viu com os olhos desse mundo o seu sonho descortinar. Viveu tão intensamente este almejo que ele se materializou. O milagre sempre acontece, é preciso esperar. É preciso semear para colher, é preciso ter fé para ver germinar.
De repente… abre-se a cortina novamente. É realidade!
Um novo espetáculo chega à cidade, ele vem de “Belo Horizonte”. Um novo templo para o saber se ergue. Majestoso.
Este espaço lúdico era esplêndido: jardins, escadarias, sacadas e corredores, amplas salas, cozinhas, espaço para banquetes. Um filme: tudo reluzia, tudo era novo, assim como novos desafios. Agora comportava tantos e todos atores no grande picadeiro do saber. As luzes se acenderam. O elenco estava pronto. A batuta mestra é a mesma de outrora. Os regentes mudam, mas a partitura permanece. A melodia é tão boa que se ouve com o passar dos anos. Os acordes são alegres, as notas são altas.
Dona Marlene, luz que se consumiu iluminando, não será apagada das memórias vindouras.
Alunos, razão máxima de nossa profissão: só existirão bons mestres, se vocês existirem. A educação é o único caminho que leva a um porto seguro. A mão é dupla – ensinar e aprender – os verbos se fundem em uma só direção.
Disse Dona Marlene, quando o “Sanico Teles” fez 15 anos: “Se a vida, oceano de riquezas profundas e infinitas, se abate pela falta de crença, certo o meu coração humano, jamais poderá vibrar sem um ideal que me alimente a vida”.
Cumprimentamos a direção, professores, alunos e funcionários. O sino já bateu… é hora de partir… até amanhã E.E. “Sanico Teles”.
(Família Sandy Garcia Borsato)
Nossos agradecimento ao amigo Joubert Borsato por este texto.
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