Um vírus travou o planeta. Colocou todo mundo de castigo. Não é de hoje que vemos filmes e livros sobre o assunto mas, desta vez, a coisa parece real. Não bastassem as dificuldades vividas por um país engessado por uma economia em depressão, “uma gripezinha” tem matado oitocentas pessoas por dia na Itália e colocado muitos trabalhadores em alerta. Para conter um surto capaz de colocar em colapso hospitais do mundo inteiro por falta de respiradores, todas as esferas do poder público têm incentivado a população a permanecer em casa. “Achatar a curva”- como dizem.
Por aqui, muitos permanecem em casa e alguns fazem churrasco como se estivessem no “Último Baile da Ilha Fiscal” ou em uma balada no bunker enquanto bombas soviéticas explodem no jardim ao som da bandinha do Titanic.
Os comerciantes têm sido muito prejudicados, mas não há remédio (nem álcool gel). Têm realizado entregas em casa, reduzido o custo do delivery e melhorado as condições de segurança de seus colaboradores. Faltam equipamentos de saúde. Você não encontra máscaras e luvas nas farmácias. Parte do sofrimento vem da incerteza. Não sabemos até quando isso vai, muito menos até quando a engrenagem aguenta permanecer parada. Há quem aposte que o melhor é fechar o boteco por algum tempo. Há quem diga que a coisa não vai chegar com a mesma força aqui… Arriscar pra quê, né não? Se daqui a duas semanas, não for nada demais, beleza. Estaremos com nossos velhinhos serelepes em boas condições de saúde, os hospitais terão condições de atender outros casos e sairemos mais fortes desta enrascada.
Brasileiro tem dificuldade para enxergar à frente. Vivemos em um país tropical. Você monta uma cerca no quintal de casa e, no outro dia, nasce um pé de chuchu sabe Deus de onde. Nos países mais frios, há uma noção mais aprofundada de planejamento. Se um ônibus atrasa quinze minutos na Alemanha, o sujeito morre congelado. É preciso planejar no verão o que será consumido no inverno. Para nós, prevenção contra um vírus invisível, com sintomas iniciais parecidos com a gripe e nome de cerveja, parece algo distante, mas não podemos pagar pra ver.
Nesse momento, tento entender o dilema que se passa na cabeça do prefeito Wander. Ele sabe que as recomendações do mundo inteiro são de prevenção, sabe que com uma pandemia não se pode brincar, mas também se preocupa com a economia local e com as necessidades da população. É preciso ter muito bom-senso nessas horas e tenho visto uma presença muito forte do poder público municipal, mesmo carente de recursos como testes (os que o país dispõe até então, demoram vários dias para fornecer resultado). Nesta semana, uma força tarefa formada pela Polícia Militar e Prefeitura passou a abordar viajantes que chegam à cidade. Veículos de passeio chegam pela entrada da Santa, enquanto os de carga entram pela Delfim Moreira.
Até o momento (03/04), nenhum caso confirmado. A cidade parece mais vazia após a corrida desenfreada em busca de alimentos nos supermercados e alguns estabelecimentos fecharam as portas. As redes sociais têm bombado nos últimos dias. “Fique em casa” ganhou o título de frase do ano em um tempo de incertezas.
Em uma coletiva de imprensa, o prefeito de Santa Rita do Sapucaí afirmou que uma reunião está agendada para terça-feira com o Ministro da Saúde, Mandetta, com o objetivo de obter recursos para reativar o Hospital Maria Theresa Rennó, a princípio dotado de respiradores e outros recursos. Sem funcionar há um bom tempo, a estrutura necessita de profissionais de saúde e de adaptação. Uma parceria com a prefeitura de Pouso Alegre, da Faculdade de Medicina daquele mesmo município e do Hospital Samuel Libânio garantiria os recursos humanos. E assim será caso o Governo Federal não coopere.
Na última semana, tivemos notícia de que um esforço para isolar os detentos que ocupam os presídios do estado, enviou todos os presos de Santa Rita do Sapucaí para São Lourenço e Pouso Alegre, transformando o nosso em unidade de triagem. Ao que tudo indica, todo mundo que for preso num raio de 200Km será enviado para Santa Rita. Pelo que fomos informados, os detentos não passarão pela delegacia, no centro da cidade, como havíamos sido comunicados inicialmente.
Espero que na próxima edição venha dizer que correu tudo bem e que voltamos com tudo. Boa sorte a todos! (Carlos Romero Carneiro)
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