Santa Rita do Sapucaí

Qual é a conexão entre uma professora santa-ritense e três indicados ao prêmio nobel?

(Por Carlos Romero Carneiro)

Tivemos acesso à obra “Tempo de Dante”, de Sebastião Almeida Pinto e através de informações contidas no livro, passamos a suspeitar de que os famosos irmãos Villas-Bôas, criadores do Parque Nacional do Xingu, teriam parentesco com alguns santa-ritenses. Afinal, o que teria em comum os cultuados indigenistas com a Rita Juvêncio, professora do Joaquim Inácio? É o que partimos para descobrir.
Nossa viagem começou com a seguinte citação na obra “Tempo de Dante”: “No princípio do século 19, alguns portugueses, os Villas-Bôas, se instalaram no sul de Minas Gerais. Mais propriamente em Santa Rita do Sapucaí. Esses lusitanos se entrosaram com famílias locais. E surgiram então Renós, Moreiras, Villas-Bôas, famílias com grande projeção.”

Logo de cara, percebemos alguns erros históricos. Ao avaliarmos a “árvore genealógica” dos Villas-Bôas, constatamos que o primeiro brasileiro da família nasceu em 1730, em Campanha (MG). Com isso, descartamos a vinda de portugueses dessa linhagem para Santa Rita, cujo primeiro morador chegou em 1818.

O autor também comete um equívoco ao mencionar que tais portugueses tiveram contato com a família Moreira, naquele período, já que o patriarca, Antônio Moreira da Costa, nasceu em 1822, em Portugal.
Na realidade, os primeiros integrantes da família Villas-Bôas nasceram em Santa Rita do Sapucaí, no início da década de 1910. Antes disso, os seus antepassados nasceram, por quatro gerações, de 1806 a 1830, em Natércia (antes chamada de Santa Catarina). Se retornarmos mais uma geração, chegamos à primeira brasileira, nascida em Campanha, em 1776, filha do Capitão Mor, João de Villas-Bôas Pereira, nascido em Braga, Portugal, em 1730. É nesse ponto que a família de Rita se conecta à dos irmãos sertanistas.

A santa-ritense Rita Juvêncio e seu filho, Guilherme.

O primeiro português de nome Villas-Bôas a vir para o Brasil, o Capitão Mor João de Villas-Bôas Pereira, teve dois casamentos: o primeiro, em 1750, com Maria Silva de Jesus e o segundo, dez anos depois, com Josefa Maria de Jesus Rodrigues. Do primeiro casamento, derivou o ramo da família que daria origem à família de Rita Juvêncio. Analisando a descendência que derivou do segundo casamento do Capitão Mor, chegamos aos famosos Irmãos Villas-Bôas, seis gerações depois. Portanto, o parentesco entre a família dos irmãos sertanistas com a moradora de Santa Rita do Sapucaí é estabelecido há dois séculos.

Seguindo os vestígios da linhagem dos Irmãos Villas-Bôas, através da obra que analisamos, no final do século 19 a família se transferiu para São Paulo onde produziu lavouras de café. Depois de alguns anos, migraram para o oeste. Enquanto alguns filhos foram para Espírito Santo do Pinhal, outros se mudaram para Itapira. Em 1887, o grupo de Itapira foi para Botucatu, onde se formaram grandes fazendas. Ali se casaram Arlinda e Agnello Villas-Bôas, pais de Orlando, Leonardo e Cláudio, os famosos sertanistas indicados duas vezes ao prêmio Nobel da Paz.

A história dos irmãos – Orlando, Leonardo e Cláudio – teve início em 1943, quando se alistaram na expedição Roncador-Xingu para desbravar o Centro-Oeste do país. Nascia ali o compromisso de entender e proteger tribos desconhecidas, muitas delas hostis, da civilização predatória que os próprios desbravadores representavam. Os Irmãos Villas-Bôas contribuíram para a preservação da cultura dos povos indígenas e a sobrevivência de nações inteiras, com a criação, em 1961, do Parque Indígena do Xingu. A história deles é retratada no filme Xingu, lançado em 2012.

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