(Por Cyro de Luna Dias)

Na minha casa, no início do século XX, vi Tonico Moreira narrando ao meu pai as peripécias da sua viagem à Alemanha para comprar o maquinário da Empresa Sul Mineira de Força e Luz que abasteceu, durante anos, de energia, esta cidade e algumas vizinhas.

Vi o próprio Cel. Joaquim Inácio Ribeiro, ponderado, severo, amando profundamente a pequena vila, contar sobre as necessidades da Santa Casa de Misericórdia, onde todos os infortunados encontravam tratamento grátis e carinho das irmãs. Ali, um dia, Joaquim Inácio expôs que não podia ficar o cemitério, em frente aos portões da Santa Casa, e o meu avô – Antônio Paulino – deu das suas terras uma área suficiente para o atual cemitério, que vem guardando os ossos de todos os santa-ritenses.

E passaram pela minha casa Vicente Ribeiro do Vale, Procópio e Otávio Ribeiro, Alcides Mendes, João Rennó, Joaquim Ribeiro de Carvalho, Delfim Moreira e o deputado Leopoldo de Luna. Passaram, também, Juca Mendes, Dr. Gabriel Capistrano, Francisco Andrade, Feliciano Teles, José Cleto e Dona Melica – células-mater da cidade. Quando o construtor David desenrolou, na nossa sala, a planta da elegante torre da Matriz e Francisco Moreira – moço ainda – disse: “é uma beleza”, deu uma sentença que transportou aquele desenho para o azul do céu santa-ritense.

Seus ossos podem ter desaparecido no fundo dos túmulos, seus nomes arrancados das placas das ruas e apagados das lápides pelo tempo, mas a memória deles ficará eterna no coração do povo, enquanto existir, no fundo de uma estante, ou esquecida numa biblioteca, esta humilde crônica. Eles lutavam agarrados ao chão, como se tivessem raízes, passavam falta de tudo; semeavam milho, que varas de porcos selvagens destruíam numa noite; plantavam fumo, muitas vezes perdidas as safras, pela violência das enchentes; criavam gado e, quando a aftosa feria a boca dos animais, impossibilitando-os de pastar, queimavam as pastagens e criavam porcos. Nas doenças, não havia médicos. Socorriam-se de plantas das matas ou dos chás caseiros. Quando o rio, enfurecido no auge das águas, inundava o vale, ficavam isolados do mundo. Se tivessem ido embora, como fizeram os descendentes de Manoel e Genoveva da Fonseca, ou se tivessem fracassado, Santa Rita não existiria. Haveria apenas a ruína de uma capela sobre um outeiro ilhado de pântanos.

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