Cultura

Obras de um discípulo de Rodin em Santa Rita do Sapucaí

(Por Carlos Romero Carneiro)

Assentada sobre um nicho, na Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, repousa a imagem da lenda maior daquelas bandas, Padre Cícero, moldada em barro por Agostinho Odísio. O ofício do italiano conhecido como Agostinho Balmes Odísio, batizado como Agostino Giuseppe Odísio, nascido em Turim (Itália), no dia primeiro de maio de 1881, era de artista-artesão. Ele dominava toda a produção, desde a compra da matéria-prima e a elaboração do projeto da imagem a ser esculpida, até o trabalho na pedra, no gesso ou no barro. A escultura feita nesse sistema deveria agradar ao comprador. Não havia espaço para grandes voos artísticos.

Aluno de Rodin

Antes de chegar ao Brasil, Odísio havia estudado Belas Artes em Turim e Roma. Em 1912, conquistou uma bolsa de estudos em Paris, onde foi aluno de Auguste Rodin. Nesse período, esculpiu bustos e nichos, trabalhou em obras sacras e era amante de outras artes: escrevia poemas e peças de teatro. Em 1913, resolveu partir rumo ao sul: decidiu que encontraria seu irmão na promissora cidade de Buenos Aires. Aos 32 anos, órfão de pai, há muito tempo, deixava em terras italianas apenas um elo: sua mãe, Maria Balmes Odísio.

Depois de ondular por muitos dias no mar, o navio que levava Agostinho aportou em Santos. A viagem demoraria a prosseguir para a Argentina e o escultor resolveu buscar hospedagem no Convento de São Bento. Estando há algum tempo em São Paulo, recebeu a visita de Natale Frateschi, dono de uma marmoraria localizada na pequena cidade de Franca. O empresário procurava os serviços de um escultor que pudesse lavrar o busto do Coronel Francisco Martins. Agostinho resolveu abraçar a oportunidade.
Durante sua estadia em São Paulo, Agostinho apaixonou-se por uma das filhas de Frateschi, Dosolina. Casou-se com ela e fixou residência no Brasil. O sogro de Agostinho tinha uma empresa dedicada à arte funerária, construindo túmulos, capelas, estátuas e escadas de mármore. Costumava importar a matéria-prima diretamente da Itália. Administrava duas lojas: a sede ficava em Franca. A filial se localizava em São Sebastião do Paraíso. A empresa, futuramente, ganharia novo nome: passaria a se chamar Marmoraria e Artes Plásticas Odísio e Frateschi Ltda. Entre 1913 e 1934, Agostinho trabalhou em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Construiu bustos, túmulos, estátuas, hermas, monumentos e até mesmo uma capela inteira, o Santuário do Coração de Jesus e do Santíssimo Sacramento, em Limeira. Esculpiu em Franca, Santa Rita do Sapucaí (onde viveu vários anos), Campinas, Guaratinguetá, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Piracicaba, Pindamonhangaba, Ponte Nova, Caçapava, Ribeirão Preto, Taubaté, Itajubá, Ouro Fino, Três Corações, Uberaba e Juiz de Fora.

Obras de Agostinho em Santa Rita do Sapucaí

Ao descrever a criação do Monumento em memória de Ruy Barbosa (que encontra-se, hoje, em exposição no Museu Histórico Delfim Moreira), o colunista Ideal Vieira descreve a passagem de Agostinho por Santa Rita: “Tal como o busto do Cel. Joaquim Inácio, que até hoje está presente na Praça Santa Rita, o busto de Ruy Barbosa também é obra do arquiteto Agostinho Odísio, que aqui residiu por longo tempo. Antes disso, o mesmo artista havia construído também o antigo frontispício da Igreja Matriz.

Outra obra criada pelo célebre artista que viveu na cidade foi uma placa instalada na fachada do “Grande Armazém de Secos e Molhados”: “Trata-se de um belo trabalho em bronze, em baixo relevo, de autoria do professor Agostinho Odísio. Nele, se vê um busto de João Pessoa e uma alegoria à Revolução, com dísticos alusivos à grande jornada liberal.” Em outra publicação, do mesmo período, destaca-se novamente a execução do projeto, replicado em diversas cidades: “Trata-se de um primoroso trabalho executado na Escola Delfim Moreira pelo professor Agostinho Odísio, com os dizeres: “Aos mortos – Glória. Aos vivos – Gratidão.”

Criador da Casa Paroquial

No jornal “Semana Religiosa” de 12 de fevereiro de 1927, encontramos um relato sobre a contratação de Agostinho Odísio para realizar o projeto e construção de nossa Casa Paroquial: “Animado pelos seus paroquianos, Monsenhor Calazans Nogueira, dará início à construção de uma magnífica Casa Paroquial, orçada em 55 contos. A construção obedecerá à bela planta feita pelo Senhor Agostinho Odísio, sob cuja direção correrão as obras.” Ao que tudo indica, a bela imagem que consta no topo do prédio seria mais uma de suas obras.

Não se sabe o período exato em que Agostinho viveu em Santa Rita e se há mais obras suas espalhadas pela cidade, principalmente no cemitério. O artista faleceu em 29 de agosto de 1948 deixando enorme legado, espalhado pelo país. Agradecemos ao amigo Jonas Costa pelo grande apoio na pesquisa histórica.

Para saber mais, leia:
– A obra de Agostino Balmes Odisio em Campinas – Paula Elizabeth de Maria Barrantes
– A fisionomia da Pedra – Amanda Teixeira da Silva

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