(Por Erasmo Kringlein)
Era 2016 e não sei bem quem teve a ideia. Talvez tenha sido um daqueles surtos coletivos que acontecem quando alguns malucos resolvem tomar um fernet. O fato é que acordamos com a notícia de que Santa Rita ia ser hackeada. Assim mesmo, com esse verbo que ninguém sabia conjugar direito. No começo, achei que era coisa de quem lê blog gringo. “HackTown”, disseram. Um festival de tudo. Tecnologia, criatividade, inovação, ideias absurdas e alguma coragem. E o mais interessante: nada de auditórios com ar-condicionado e cadeiras numeradas. As palestras iam acontecer em bares, lojinhas antigas, esfirrarias e até em uma antiga loja de móveis. Parecia loucura — e talvez fosse, mas daquelas que terminam em coisa séria.
Levei meu filho a tiracolo. Onze anos. Minha mulher, fora do país. A alternativa era deixá-lo no videogame ou arrastá-lo comigo. Escolhi a segunda opção e, como garantia, prometi mais um dia de locação de Bioshock. É a pedagogia da barganha — pais entenderão.
A primeira palestra era sobre alimentação com insetos. Grilos, baratas, larvas. Pensei em fugir, mas meu filho gostou da ideia. olhava para os pratos como quem encara um experimento secreto. Em seguida, caímos numa esfirraria onde um sujeito falava de trocar carro por bicicleta e rotina por vida. Saí de lá achando que, talvez, viver fosse só mudar de calçada de vez em quando.
Depois veio um morador da cidade, que dizia que Michel Teló estava em sintonia com a música sacra medieval. Em outra sala, um rapaz explicava a “jornada do herói” com tanta empolgação que comecei a achar que a minha vida poderia virar um roteiro. E então veio a estrela do dia: “Os segredos de Star Wars”. Meu filho se ajeitou na cadeira como quem assiste à final da Copa. Quando tudo acabou, já pensava em abrir um canal no YouTube e conquistar uma galáxia distante.
Hoje, o HackTown já não cabe mais naquelas esquinas. Cresceu. Expandiu. Transbordou. São milhares de pessoas circulando — vindas de todos os cantos da América Latina — com celulares na mão, crachás coloridos no pescoço e um brilho no olhar que não se vê em todo lugar. Mais de mil atividades, nomes gigantes da tecnologia, da música, das artes, dos negócios e das causas sociais.
Mas o que impressiona, mesmo com a escala, é que o espírito permanece. A essência ainda mora nas ruas. Ainda tem conversa boa em barzinho, palestra surpresa num quintal, startup dividindo mesa com artesão, e criança ouvindo sobre inteligência artificial como quem escuta conto de fadas. Ainda tem aquele clima de que qualquer um pode pegar o microfone e ser ouvido.
Na edição de 2025, falaram de ancestralidade e de algoritmos, de fake news e de espiritualidade, de transição energética e de inteligência emocional. Havia quem fosse para aprender, quem fosse para ensinar e quem fosse só para respirar ideias novas. Teve gente dançando na praça, meditando num galpão, chorando numa roda de conversa e rindo sozinha ao descobrir que o futuro talvez não seja tão assustador. No fim das contas, hackear uma cidade nunca foi invadir coisa alguma. Era só acordá-la — com jeitinho, com conversa, com graça. E, olha… não é que ela acordou mesmo?!
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