O escultor do monumento a Delfim Moreira

(Por Carlos Romero Carneiro)

Uma das obras mais representativas de Santa Rita do Sapucaí é o Monumento ao Presidente Delfim Moreira, localizado no centro da praça que homenageia o ilustre morador de nossa cidade, bem em frente à sua antiga residência (atual Museu Histórico Delfim Moreira).

Inaugurado em 7 de setembro de 1923, o monumento foi uma criação do artista Antonino de Mattos, cujos irmãos também eram importantes artistas brasileiros. Conheça, a seguir, um pouco da história de um dos maiores artistas do Brasil e da obra que produziu em Santa Rita, há 99 anos.

Os irmãos Mattos

Nascido em uma família, tradicionalmente, ligada às Artes Plásticas, dois irmãos do escultor Antonino de Mattos também se tornaram artistas reconhecidos. Nascido em 1886, em Vassouras, Aníbal Pinto de Mattos foi um pintor, professor, crítico e curador de artes, além de escritor, teatrólogo, historiador e promotor cultural. Também se interessava pela arqueologia e paleontologia, tendo explorado e coletado material arqueológico e fóssil em inúmeras grutas na região de Lagoa Santa, Confins, Lapinha e da serra do Cipó. Outro irmão de Antonino, Adalberto Mattos, foi gravador de medalhas, formado na Escola Nacional de Belas Artes, professor do Liceu de Artes e Ofícios e de outras escolas técnicas, além de crítico de arte em diversas revistas.

Antonino de Mattos esculpiu o monumento em homenagem a Delfim Moreira.

Antonino de Mattos

Antonino Pinto do Mattos (Vassouras, RJ, 1891 — Rio de Janeiro, RJ, 1938), mais conhecido como Antonino de Mattos, foi um pintor, escultor e professor de artes plásticas brasileiro. É conhecido pela criação do Monumento aos Heróis da Retirada de Laguna, na Praia Vermelha (Urca), na cidade do Rio de Janeiro, o qual homenageia os episódios da Retirada da Laguna e do Combate de Dourados, ocorridos no contexto da Guerra da Tríplice Aliança.

Para se ter uma ideia do valor dos trabalhos de Antonino, recentemente foi leiloada uma escultura em gesso intitulada “A Escrava”, produzida por ele. O valor inicial da peça de um metro e meio de altura foi de oito mil Reais. Outro detalhe que poucos sabem é que o escultor que entrelaçou a sua história a Santa Rita do Sapucaí, há quase 100 anos, tornou-se pai, aos vinte e cinco, de Marie Louise Mattos, a mais premiada pintora brasileira de todos os tempos.

A escrava, de Antonino de Mattos.

Ao vencer 12 concorrentes em um concurso de apresentação de maquetes para a construção do “Monumento aos Heróis de Laguna e Dourados,” no Rio de Janeiro, Antonino faria daquela a sua mais reconhecida obra. Quis o destino, entretanto, que falecesse poucos dias antes da inauguração, acontecida no dia 31 de dezembro de 1938, aos 47 anos de idade.

De volta a 1923

Ao finalizar a sua obra em Santa Rita do Sapucaí, no ano de 1923, assim definiu Antonino de Mattos sobre a concepção do monumento em homenagem a Delfim Moreira: “As proporções do local a que se destina o monumento por mim escolhido, por ser de todos o que mais qualidade encerra, não só históricas como também artísticas, não comportaria um trabalho de grandes dimensões. Sendo assim, procurei, ao reduzir o tamanho, aumentar a ideia representativa. Eu teria mais vantagens materiais se representasse a figura que queremos numa só estátua. Se tivesse maiores proporções, iria depor contra a minha consciência de artista e sacrificar a verdade histórica dos fatos. Maior será, no entanto, a síntese do pensamento de um estadista como foi Delfim Moreira. A obra terá, em altura máxima, três metros e cinquenta centímetros. Já sua base, perfeitamente quadrada, dois metros e cinquenta centímetros. A linha geral do monumento terá forma piramidal. A figura principal, que representa o próprio presidente, acha-se em perfeito equilíbrio com o resto da composição, como se esta fosse o seu próprio pensamento. A sua posição calma e cheia de concentração é bem a do estadista que medita em todas as coisas que envolvem a pátria. A composição que circunda o pedestal é a homenagem a todas as coisas que são o pensamento de um estadista perfeito: a instrução; a pátria; a lavoura; as indústrias; a navegação; o trabalho e as artes. Nos diversos lados da base, acham-se executadas guirlandas de louros e carvalhos, símbolos da glória.”

Monumento ao presidente Delfim Moreira, em Santa Rita do Sapucaí.

Monumento da Laguna

Concebido em 1920, o monumento “Heróis da Laguna e Dourados” foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1938, dias depois da morte de Antonino. Com 15 metros de altura, é contornado por aspectos representativos da passagem que marcou a Guerra do Paraguai. Nos lados do pedestal, encontram-se estátuas em bronze, em tamanho natural, do coronel Camisão, em atitude de preocupação, tendo numa das mãos a sua espada e, na outra, uma folha de papel; o guia Lopes, sentado, pensativo, mão no queixo, segurando na outra mão um chicote; o tenente Antônio João, em posição de quem vai tombar, em desalinho, bainha sem espada, vendo-se ao lado um pedaço da mesma, quebrada no fragor da luta.

Um anel de bronze contorna em outro plano o pedestal, formando-se em alto-relevo as cenas mais dramáticas da Retirada: o transporte dos coléricos, vendo-se os soldados extenuados, carregando nos ombros, em padiolas, os doentes; o salvamento dos canhões, vendo-se as juntas de bois, cansados, puxando as carretas, com a ajuda dos soldados, seminus; a marcha forçada, estando à frente o comandante da coluna, tendo à mão esquerda um papel e o braço direito estendido em atitude resoluta, indicando aos soldados o caminho a seguir. Figuras alegóricas, de cerca de dois metros, em outro plano, simbolizam a Pátria, a Força e a História. Sobre o pedestal de granito, em circunferência, eleva-se uma coluna de seis metros de altura, também em granito, tendo ao alto uma estátua em bronze, figura de mulher alada, representando a Glória. A altura total do monumento é de 15 metros, apresentando um dos conjuntos esculturais mais imponentes da cidade. Completando a obra, uma cripta subterrânea, nove degraus abaixo do monumento, guarda as cinzas dos heróis de Laguna e Dourados.

Memorial da Laguna, de Antonino de Mattos.

Guardadas as devidas proporções, a composição lembra muito o estilo do monumento a Delfim Moreira e demonstra todo o talento do artista que produziu uma verdadeira relíquia para a nossa cidade.

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