(Por Adjair Franco – Dija)
Filho de Amando Sérgio Ribeiro e Sra. Maria de Lourdes Cavalcanti Ribeiro, José Carlos Cavalcanti Ribeiro foi o primeiro filho de sete irmãos. Nasceu em Borda da Mata, aos 28 de setembro de 1930 e, ainda pequeno, sua família veio morar em Santa Rita do Sapucaí.
De família muito religiosa, desde pequeno já cultivava a sua vocação, trabalhando na comunidade local. Como coroinha, ajudava sempre nas missas, nas rezas de terços e em outras atividades da igreja. Também era Vicentino, fruto do exemplo dos pais e, assim, foi revelando o seu desejo de um dia se tornar padre.
Quem atuava como pároco, na época, era o Revmo. Cônego Carvalhinho que, ao tomar conhecimento do seu sonho de ser tornar padre, ficou surpreso, já que José Carlos era um garoto bem peralta. Entre uma e outra brincadeira, costumava subir na torre da igreja para jogar grãos de café no povo que passava. Por vezes, até era suspenso dos seus serviços de coroinha.
E o Cônego Carvalhinho foi ter uma conversa com o pai de José Carlos, para que autorizasse a sua ida para o seminário. Sua família se sentiu abençoada e muito emocionada pela decisão do filho e concordou com a sua ida.
José Carlos entrou para o seminário no ano de 1942. O Bispo da época era Dom Otávio Chagas de Miranda. Por quatro anos, o jovem frequentou o seminário. Eram onze seminaristas e, nesse tempo, a instituição passava por uma grande crise financeira.
Ele decidiu sair do seminário e seu diretor espiritual, Monsenhor Aristeu Lopes, não concordou com a decisão. Depois de muita conversa, prevaleceu a sua vontade. Foi uma escolha muito difícil e que provocou o espanto de todos. Como seria a sua vida fora do seminário?
Voltando para Santa Rita, passou a residir com os pais e precisou escolher qual seria o novo caminho a trilhar. Seu pai deu-lhe apenas 15 dias para tomar uma atitude. E, assim, José Carlos resolveu trabalhar no consultório do senhor Amando, que era dentista. Desejando se aperfeiçoar, foi estudar em Belo Horizonte e se formou em odontologia, concluindo com Mestrado e Doutorado. Trabalhou na área por muitos anos, mas o plano de Deus para a sua vida era outro. Sua vida de igreja não foi esquecida. Atuava como congregado Mariano e Vicentino, fortalecendo cada vez mais a sua fé.
Na capital mineira, seguia com o trabalho ao lado de Dom João Rezende Costa, Dom Serafim Fernandes e com Dom Arnaldo Ribeiro. Teve muito apoio e credibilidade por parte de Dom Arnaldo Ribeiro. Tanto que, aos 46 anos, voltou para o seminário. Ficou lá por pouco tempo, já que os seus estudos de Teologia foram concluídos enquanto ainda era leigo.
Junto com os Irmãos da Congregação do Santíssimo Sacramento, participou, por 25 anos, dos Adoradores Perpétuos da Boa Viagem. Conforme concordância com o bispo Dom João Rezende Costa e também a pedido dele, sua ordenação deveria acontecer num dia de “Nossa Senhora”.
A Ordenação Diaconal aconteceu no dia 11 de fevereiro (dia de Nossa Senhora de Lourdes) e a Ordenação Presbiteral no dia 24 de maio (dia de Nossa Senhora Auxiliadora), no Colégio Santa Marcelina, em Belo Horizonte. O lema escolhido para a Ordenação foi a passagem do Evangelho de São Lucas (1,46): “Minha alma glorifica o Senhor!”
Sua primeira missa foi celebrada em Santa Rita, depois de uma maravilhosa recepção na ETE. Permaneceu mais algumas semanas no Brasil, após a Ordenação, mas logo embarcou para Roma, onde iniciou os seus estudos em Espiritualidade, no Colégio Tersiano.
Em Roma, passou a residir no Colégio Pio Brasileiro. Lá, também morava Dom Lucas Moreira Neves. Como Dom Lucas trabalhava no Vaticano, na Congregação para os Bispos, a proximidade e convivência com o Papa eram constantes. Os momentos de oração e de amizade, com João Paulo II eram intensos. Com isso as oportunidades de oração e de convivência com o Papa foram, cada vez mais, se intensificando. Padre José Carlos dizia que conviver com o Papa era muito bom. Com muita admiração e saudade, comentava: “Sua Santidade tinha uma profunda devoação à ‘Nossa Senhora’. Seu carismo em se comunicar e conviver com a juventude era notável. Seu gesto de beijar o solo de cada país que visitava, refletia um anseio de amor, paz e unidade entre os povos.”
Ele também mantinha convivência com o Papa, fora do trabalho. Por muitas vezes, Dom Lucas e Padre José Carlos almoçavam com João Paulo II, no Palácio Apostólico. Por conta do trabalho, na Congregação para os Bispos, Dom Lucas queria fazê-lo Bispo, mas ele nunca aceitou.
Foram quase dois anos de muito trabalho e estudo. Chegou um momento em que foi necessário voltar para o Brasil, em 1980, dado o compromisso que tinha com a Universidade Federal de Minas Gerais. Aqui, foi formador no Seminário e Vigário na Paróquia da Pampulha. Após a sua aposentadoria, em 1997, voltou para Pouso Alegre. Construiu uma ermida em suas terras para ali viver uma vida Monástica (na contemplação de Deus, no silêncio, nas orações). Tal ermida servia como ponto de encontro mensal para o Clero da Arquidiocese, com o incentivo e participação do então Bispo Dom João Bergese. José Carlos, era enfático em dizer: “Silenciar-se é ouvir a voz de Deus!”
E, assim, por mais de 20 anos, viveu compromissado com a causa do Reino, fiel à sua vocação. Quando penso no nosso convívio, ainda me recordo quando, em uma viagem à Roma, ele me chamou e disse: “Leve o meu casaco para proteger-se do frio de lá!” Tive a oportunidade e o privilégio de ser seu amigo! O conheci como um homem simples, justo e fraterno. Era um piedoso sacerdote! Eu e, com certeza, toda a comunidade católica, só podemos dizer: “Gratidão pela sua vocação e entrega ao Reino de Cristo, em seu Ministério Sacerdotal!”
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