(Por Soares Brandão Filho)
O rio às margens de nossa cidade tem um lugarzinho na história. Quanta coisa foi testemunhada pelas suas águas: combates, descobertas de minas, emboscadas do gentio contra o branco invasor, nascimento de povoados, dramas amorosos!
Historiadores diversos escreveram sobre ele. Pelo Sapucaí cruzaram, das nascentes à foz, bandeiras e bandeirantes que, enquanto esburacavam o solo à cata do régio metal, fizeram muita roça de milho e mandioca junto ao seu leito, ora tortuoso, ora em estirões, aproveitando o terreno adubado pelas enchentes que traziam das cabeceiras o melhor da terra: a boa parte nutritiva e a camada rica em fertilizantes, húmus.
Viajantes ilustres vadearam-no, inúmeras vezes, seja em pesquisas científicas para enriquecimento de museus europeus, seja com outro fito. Era o rio ponto de referência para que viessem do planalto paulista em direção às minas, via Mogi-Guaçu, sendo o povoado de Santana do Sapucaí, hoje Silvianópolis, quase sempre a “sala de visitas” da terra ambicionada.
Como todo rio, possuía o seu gentio. Eram os Cataguás os donos da terra. Deles, dizem que formavam a tribo “que mais medo incutia aos velhos paulistas e que, por isso, formavam a etnia mais famosa, registrada em nossa história”. Itabibaçu (“O braço da pedra rija”) era o nome do cacique dos Cataguás. “Marquês de Sapucaí” foi o nome dado ao Grão Mestre Honorário do Grande Oriente do Vale do Lavradio. Sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e seu presidente durante 30 anos. “Vale do Sapucaí” era o nome dado a um jornal pousoalegrense. Periódico bem feito e melhor escrito que sofreu, como toda imprensa do interior, os seus reveses, mas deixou fama. “Sapucaí” é, também, o sobrenome de distinta família de Pouso Alegre, com notórios serviços à coletividade. Mas, enfim, o que significa Sapucaí?
Eis aí um nome que me chamou a atenção para o seu verdadeiro significado, desde o tempo em que vivi com os paraguaios, descendentes dos guaranis, cujo linguajar muito se assemelhava ao dos tupis. O interesse era tanto por ver, continuamente, o nome “Sapucaí” como proveniente de sapucaia, licitidácea de que o vale era rico, em outros tempos.
Comentando, certa vez, com um professor de guarani do Colégio Nacional em Assunção, ele me esclareceu: “Sapucaí quer dizer “rio que grita”, “rio que canta”, havendo até com este nome, aqui no Paraguai, uma estação ferroviária que você conhece por passar ali, frequentemente, com destino ao sul do país!”
Consultando o mestre Plício Ayrosa, tupinólogo respeitadíssimo e ilustre da Faculdade de Filosofias e Letras de São Paulo, assim ele me respondeu: “O topônimo, Sapucahy, além de significar “rio que canta”, pode também ser traduzido por “rio das sapucaias.”
“Rio que canta”, “rio que grita”, “rio das sapucaias”… O Sapucaí, rio suave, rio sem barulho, rio hoje muito acomodado, com uma enchente ou outra, para matar a saudade dos idos, rio sem monções e aventureiros, livre de disputas e tiros de incursores de épocas remotas ou de brigões protegidos pela politicalha que passou, tem bem parecença com o rio de Manuel Bandeira:
“Ser como o rio que deflui
silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite,
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio, as nuvens são água,
Refleti-las, também, sem mágoa
Nas profundezas tranquilas.”
(Texto produzido por Soares Brandão Filho para o jornal “O Correio do Sul em 12 de dezembro de 1950)
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