Coluna do Elísio Rosa

Memórias da Rua da Ponte (Por Elísio Pamphiro Rosa)

A Rua Silvestre Ferraz, conhecida como Rua da Ponte, foi um centro comercial preponderante em boa parte do século XX, onde se concentrava a área comercial de Santa Rita. Lá estava o maior hotel da cidade, o Hotel Mello. Três agências bancárias: Banco Nacional, Banco da Lavoura e o Banco Mineiro da Produção. Cada agência comportava dezenas de funcionários que se via do balcão. Os pagamentos de faturas, duplicatas, transição com cheques, e recebimento de dinheiro eram feitos nos balcões com segurança e ao som dos incessantes ritmos das teclas das máquinas de escrever. As somas eram feitas na ponta do lápis com muita habilidade pelos funcionários.

Havia pela extensão da rua uma profusão diversificada de estabelecimentos comerciais como barbearias, marcenaria, padarias, leiterias, relojoarias, armazéns, sapatarias, farmácia, as Casas Pernambucanas gerenciada pelo sr. Miranda e também gerente do Cine Vitória, alfaiatarias, loja de armas de fogo, bicicletaria, latoeiro, estúdio fotográfico, jornaleiro, bares com bilhar, secos e molhados, pensões, a Casa do Rádio, gerenciada pelo Emil Baracat, onde se vendia vitrolas, rádios, paletós, chapéus, discos de vinil, etc. Havia naquela via pública bilhetes da loteria federal e estadual e dois pontos de jogo de bicho. Na confluência da Rua da Ponte com a Avenida Delfim Moreira, junto a um bar, funcionava um alambique que destilava a pinga Rosinha. Da mais charmosa residência da rua, a do sr. Iko Adami, resta ainda a estrutura de uma residência que foi uma bela ostentação estética do passado.

O comércio de ferramentas, utensílios e máquinas para a agropecuária se encontrava ali. Nos dias de semana a rua era calma. Todavia, aos sábados, havia um alvoroço de transeuntes e um congestionamento de charretes, cavalos e cavaleiros. Estes amarravam os animais nas argolas cravadas nas calçadas em frente às lojas. O glamour dos cavaleiros estava na ostentação dos equipamentos dos seus animais: selas, baixeiros, cabrestos, rédeas, reios, etc. feitos com esmero por hábeis seleiros. Valorosos artesãos que produziam utensílios para equinos sob encomenda. Destacaram-se nessa arte os seleiros: sr. Schmidt, o sr. Zequinha Major, o sr. Salvador e o sr. Sebastião Preto. Essa admirável profissão, que fez história, com o tempo foi sofrendo com a mecanização do transporte.
No silêncio dos ares da cidade, ao tropel do cavalo, numa cadência rítmica metrificada, ia o garboso cavaleiro. Todavia, para que tudo isso pudesse ser realizado, era necessário ferrar o cavalo por causa dos desgastes provocados nos cascos pelos paralelepípedos. Para colocar uma ferradura lá estavam os ferreiros Sajóbi e o Zé Leão, na Rua Municipal, fazendo soar a bigorna junto a uma fornalha milenar. Com o cavalo bem selado, limpo, ferrado, agora era ir à Rua da Ponte desfilar pela única passarela pública da cidade. Vaidosos cavaleiros que, de peito empinado, despertavam a atenção das pessoas e dali partiam para os seus lares.

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