Música

Luiz Carlos Adão, o Vulgo Negão, conta um pouco de sua paixão pelo Hip Hop

Como começou a sua relação com a música e com o Hip Hop?

Por volta de 1989, estava rolando uma festa de Santa Rita e uma das atrações foi um grupo chamado Break Cia, que era do Edivaldo, um pioneiro do movimento Hip Hop em Santa Rita. Quando eu vi aquele grupo se apresentando no palco achei muito bonito e comecei a me interessar pela dança! A partir daquele dia, a dança foi a minha primeira forma de manifestação através da arte.Depois daquela experiência, nós montamos um grupo de dança de rua e começamos a nos apresentar nas festas da cidade e também nas quermesses. Antigamente, havia várias destas festas, como na Igreja de São Benedito, da Nossa Senhora de Fátima, na Rua do Queima… isso nos possibilitou conhecer a cultura Hip Hop.

Quando você começou a compor?

Através da experiência da dança, passei a conhecer melhor o Rap nacional, através de Gabriel O Pensador, Ndee Naldinho, Racionais Mc´s e também comecei a me interessar pelas letras! Eu então montei um grupo chamado “O Rap predomina no gueto”, com integrantes aqui mesmo da Rua Nova. Éramos eu, o Humberto Maia e o Nego Tião (Leandro Lopes). Em seguida, formamos a dupla Leandro e Vulgo Negão e passamos a nos apresentar pela cidade com nossas próprias rimas!

Vocês se apresentavam com as duplas sertanejas da cidade?

É verdade! Uma das duplas que nos convidavam sempre era a Josimar e Carlinhos. Eles nos apoiaram bastante naquele início! Naquela época, entre 2000 e 2007, o espaço para o Rap era muito limitado e costumávamos nos apresentar com uma música só, antes de algum show que iria rolar na quermesse! Um dia, na festa do asilo, aconteceu da gente se apresentar antes da dupla, eles viram a gente se apresentar com a galera cantando em peso com a gente e passaram a nos chamar para todas as suas apresentações! Nós tínhamos uma comunicação bacana com a galera do Recanto das Margaridas e eles gostaram da adrenalina que a gente criava nas pessoas!

Vocês chegaram a abrir um show dos Racionais?

Foi sim! Não foi bem uma abertura de show! Nós fomos o grupo que se apresentou na noite em que eles eram as grandes estrelas do evento! Foi um momento em que eu me apresentava com uma temática religiosa, mais voltada ao meu lado espiritual. Éramos eu, o Leandro Lopes e o falecido Ivan, que Deus o tenha! Nós nos apresentamos com todas as músicas autorais e as pessoas gostaram muito!

Quando você sentiu que poderia criar as suas próprias músicas?

Eu sentia preconceito das pessoas por causa da minha cor e, quando ouvi Racionais pela primeira vez, percebi que eles falavam o que eu sentia. Foi então que decidi que também queria compor e cantar as minhas próprias letras! Através do Hip Hop eu poderia desabafar, dizer o que eu pensava e conversar com pessoas como eu!

Qual foi a música que você compôs e que lhe deu mais orgulho?

Tenho várias, mas criei uma letra nesta época chamada “Autovalorização” que eu gosto muito!

Chega de ser acomodado
ouça a minha voz, então.
Chega de fechar os olhos
ao que acontece com os irmãos. Lute pelo seu povo, mano!/
Escute o que digo!
(Autovalorização)

Você curte andar de skate?

Sim, sim! O skate também surgiu através de uma mescla do Rap com o Rock! Das bandas que eu gostava, muitos músicos eram skatistas e comecei a me interessar por conta disso! E passei a gostar tanto do esporte que ando de skate até hoje! Não como fazia aos 18 anos, mas ainda é uma válvula de escape, inspiração para escrever e fazer amigos!

Sua live no Inatel foi seu momento mais marcante?

Em 2006, havíamos ganhado o show de talentos e pedimos um espaço para fazer um evento no ano seguinte. A prefeitura nos ofereceu uma hora e meia de palco, mas só tínhamos 45 minutos de repertório! A solução foi convidar alguns grupos de Rap para se apresentarem com a gente e estávamos felizes em poder estar ali, até que tentaram nos proibir de entrar no palco, dizendo que iríamos fazer apologia ao crime, coisa que nunca fizemos! Tendo em vista situações como esta que eu passei, ter me apresentado no Teatro Inatel, foi como uma espécie de triunfo e sinal de que as pessoas já enxergam melhor o Hip Hop!

E os planos para o futuro?

Meu plano é gravar um CD com o Dais! A intenção dele é gravar uma Demo e me chamou para cantar algumas músicas com ele!

takefive

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