(Por Carlos Romero Carneiro)
Na infância, a minha Neverland era a horta do meu avô materno. Uma espécie de laboratório onde ele produzia frutos, verduras e tabaco, criava galinhas e engordava porcos para fazer carne de lata. Para mim, aquele ambiente era como um paraíso escondido, universo particular, às margens da pequena cidade. A cada época, uma ligação da minha avó: “Avisa o Carlos que é tempo de goiaba! A jabuticabeira já está carregada! Fala para ele vir apanhar mangas!” E lá ia eu, passar tardes inteiras com os meus primos, degustando o que poderia haver de mais saboroso em matéria de frutas. Bem diferente dos maracujás de supermercado, os que tinham na horta eram rosadinhos por dentro e tão doces que parecia que alguém havia despejado uma colher de açúcar. Do pé de pera, colhíamos as pitangas que cresciam ao lado. Entre limoeiros e laranjeiras, um pé de amora cujos frutos tingiam as nossas roupas de preto. O araçá só começou a dar frutos no final da minha infância e lembrava o sabor da goiaba verde e da pitanga madura. Do quarteirão de baixo, onde moravam os meus primos, saíamos na rua de cima, que beirava a “Casa Romero”, comércio à moda antiga que vendia produtos fresquinhos e livres de agrotóxicos. Nos finais de semana, o armazém era tomado por uma multidão de moradores da zona rural. Cavaleiros amarravam os animais em argolas à beira das calçadas, caminhões estacionavam com famílias inteiras na carroceria e um boteco ao lado era invadido por boiadeiros que entornavam copos lavrados de cachaça. Feijão, arroz, milho e óleo eram vendidos a granel. Caixas e mais caixas de bacalhau eram espalhadas pelo estabelecimento e atacadas por clientes que arrancavam lascas para experimentar o sabor. O aroma do plástico dos brinquedos dispostos em fios que avançavam sobre o teto, mistura-se ao cheiro das frutas, do fumo de rolo, das linguiças curadas e dos frios. Eu adorava aquele lugar, mas achava que o paraíso deveria ser o mercado municipal. Minha mãe fazia as compras com uma sacola de tecido debaixo do braço e os meus pensamentos eram transportados para as imensas pinturas produzidas na parte alta do prédio. As cenas remetiam a um passado distante, com um sujeito que laçava um leitãozinho pelas patas traseiras, uma criança que comia melancia à beira da calçada e uma banquinha de frutas em frente a um açougue. Havia a cena de um boiadeiro que domava um animal bravio, de uma senhorinha que escolhia as frutas e de alguns homens cortando os peixes, observados por uma criança com cabelo de cuia e um balaio nas mãos. A minha imaginação tentava dar continuidade às cenas dos afrescos que terminavam com uma estradinha que levava ao infinito. Quando os pensamentos retornavam ao velho mercado, os meus olhos eram inundados por uma enorme variedade de frutas maduras, em pequenas bancas que tomavam conta do velho barracão. Eu sonhava em ficar trancado ali e virar a noite comendo goiabas, chupando uvas docinhas ou me esbaldando com uma barra de rapadura. No fim das compras, o pedágio… Sempre pedia um pastel de queijo e um caçulinha. Também alugávamos uma charrete para voltarmos para casa, mas a minha mãe tinha vergonha e eu cortava a cidade em companhia de um senhorzinho com barba tingida pela nicotina e dono de uma aparência tão ancestral quanto o seu método desconjuntado de locomoção.
(Texto extraído da obra “Quarentena aos Quarenta, de Carlos Romero Carneiro. 2024.)
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