(Por Carlos Romero Carneiro)
O farmacêutico, Hildeu Carneiro Pinto, contou um pouco da trajetória de seu pai e da tradição familiar em atuar com farmácias de manipulação e atendimento em Santa Rita do Sapucaí
Auxiliar de Seu Adelino
A vinda de Astolfo Lemos Carneiro para Santa Rita do Sapucaí aconteceu quando seu tio, Adelino Carneiro Pinto, o contratou para ajudá-lo nos afazeres da reconhecida Farmácia São José. Foi uma época em que o farmacêutico conhecido como “O pai dos pobres” acabava de assumir a direção do Instituto Moderno de Educação e Ensino (IMEE) e transmitiu ao auxiliar tudo o que sabia sobre manipulação de medicamentos e tratamento de enfermos.
O aprendizado do ofício
Sem qualquer instrução acadêmica, Astolfo aprendeu, na prática, a produzir os seus próprios medicamentos e a cuidar de uma parcela carente da comunidade que não tinha acesso à assistência médico-hospitalar. O tratamento mais comum era contra a disenteria – reflexo das precárias condições de higiene da população.
O primeiro estabelecimento
Depois de atuar muitos anos com “Seu Adelino”, o farmacêutico decidiu que já era o momento de abrir o seu primeiro negócio e mudou-se para São Sebastião da Bela Vista. Na cidade vizinha, atendeu a muitos doentes das redondezas que, até então, precisavam atravessar a serra do paredão para realizar as consultas.
Rua da Ponte
Em 1929, Astolfo retornou para Santa Rita do Sapucaí e inaugurou, entre os imigrantes da rua da Ponte, o seu novo estabelecimento. Com o auxílio de sua esposa, Isaura Carneiro Pinto, e de seus filhos, a farmácia prosperou e não tardou a ser reconhecida como uma das melhores da região.
O prédio definitivo
Em 1955, Astolfo comprou do senhor Mário Goulart um prédio onde, pouco tempo antes, havia sido um banco e a Farmácia Nossa Senhora Aparecida ganhou ponto definitivo. Com a mudança, vieram também alguns equipamentos adquiridos no decorrer da carreira, que Hildeu guardou como recordação. “A balança de precisão é tão sensível que, se você colocar duas folhas de papel sobre ela e riscar uma delas com lápis, o fiel acusa.” – conta Hildeu.
Olho clínico
O vasto conhecimento adquirido através da experiência prática e dos livros que importava da França, proporcionou ao farmacêutico um apurado diagnóstico. Quem não gostava muito eram os médicos que torciam o nariz toda vez que tinham as suas receitas rejeitadas. Ildeu conta que, certa vez, chegou à farmácia uma receita para curar o tumor de uma criança. Ao examinar, seu pai falou: “Que tumor nada! Isso aí é berne!” Bastou espremer um pouco para eliminar da receita uma dolorida injeção cuja agulha – de tão grossa – precisava ser afiada.
Ponto de encontro
Em um tempo em que não existia televisão, a diversão preferida dos santa-ritenses era se reunir na Farmácia para conversar e saber das novidades. Devido ao grande número de amigos que passavam todos os dias por ali, Ildeu conta que seu pai precisava reiniciar a dosagem quando chegava algum amigo e tirava a sua atenção. Astolfo era um homem muito reservado, raramente sorria, mas vivia cercado de amigos.
Trabalho em família
Como trabalharam desde criança, os filhos de Astolfo – Hildeu, Elza, Heloisa, Aluízio e Hilda – cresceram dentro da farmácia e se acostumaram a ter que acordar de madrugada. Era também deles a missão de ferver os vidros retornáveis, dosar os medicamentos, atender os clientes e manter o ambiente impecável.
No decorrer dos anos, os remédios manipulados começaram a ser substituídas por medicamentos prontos e os filhos assumiram a responsabilidade gerencial. Quando o pai faleceu, aos 72 anos, Hildeu e Elza permaneceram à frente da farmácia e mantiveram a qualidade e bom atendimento responsáveis pela conquista de tantos clientes.
Chegou um tempo em que Hildeu passou a não contar com o auxílio da irmã – também falecida – e decidiu que havia chegado a hora de descansar. O garoto que cresceu entre tubos de ensaio, cadinhos e substâncias químicas iria finalmente se aposentar. Junto com ele e seus familiares, Santa Rita do Sapucaí virava uma importante página de sua história e reverenciava a figura de Astolfo Lemos Carneiro: um homem que colocou sua vida e obra a serviço de nossa saúde.
No dia 19 de setembro de 2024, a cidade iria se despedir de Hildeu, personalidade estimada e reconhecida pelos bons serviços prestou à comunidade. A este estimado santa-ritense fazemos as nossas homenagens e prestamos nossas condolências aos familiares e amigos.
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