Por Salatiel Correia
O escritor Julio Cortázar nasceu na Bélgica, mas é considerado de alma argentina pelos seguintes fatos: a sua família – pai e mãe – ser argentina e os progenitores terem retornado para sua terra natal quando ele era uma criança.
No país do grande escritor Jorge Luis Borges, Cortázar foi professor, tradutor e escritor. Seus contos, de extraordinária beleza estética e publicados em prestigiadas revistas literárias, contribuíram para que se tornasse um escritor reconhecido em seu país. Porém faltava ao autor de “Bestiário” uma grande obra literária.
Esse reconhecimento veio quando, em julho de 1963, esse homenzarrão, de dois metros de altura, publicou a obra-prima de sua vida: “O Jogo da Amarelinha”. Com esse romance, escrito quando viveu, por razões políticas, exilado na França, Júlio Cortázar ganhou o respeito da crítica e de milhões de leitores. Ouso dizer que essa obra-prima tem a mesma importância literária que “Cem Anos de Solidão”, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, ou o “Sonho do Celta”, do escritor peruano Mario Vargas Llosa.
“O Jogo da Amarelinha”, um romance extremamente difícil e exigente, ceifou quatro anos da vida de Julio Cortázar. Ele construiu um livro que desafia o leitor a entender a complexa psicologia dos personagens centrados não apenas em divagações existencialistas, mas, sobretudo, no ser ou não, o qual tanto nos aponta em seus escritos o dramaturgo inglês William Shakespeare.
A respeito dos pontos específicos do livro, enfatizo, na primeira parte do romance, as discussões promovidas por um grupo de intelectuais integrantes do Clube da Serpente, do qual faz parte o erudito argentino Horácio Oliveira.
Nesse clube cosmopolita ocorrem diálogos de extraordinária riqueza literária, artística e filosófica. Ler e entender as discussões colocadas no debate é, sem dúvida, um grande desafio para os leitores.
Outro ponto relevante em “O Jogo da Amarelinha” é a relação entre a uruguaia Lúcia (ou Maga) e Horácio Oliveira: aberta, com direito a puladas de cerca de Horácio, por sua capacidade de arrumar amantes.
E aqui faço a seguinte ressalva: creio que as excessivas preocupações de Horácio com a política na Argentina muda a ambiência do romance que se iniciou em Paris, mas que, depois, volta-se para um país tipicamente latino-americano, como é a nossa vizinha Argentina.
O retorno de Horácio Oliveira a Buenos Aires, após o rompimento com Maga (ou Lúcia), coloca o personagem diante de mais uma dúvida shakespeariana: deve ou não refrear a paixão pela mulher do seu melhor amigo? O final do romance não poderia ser outro senão este: atormentado pela dúvida, o personagem comete suicídio.
Ao encerrar estes escritos creio ser oportuno colocar a seguinte indagação: o que faz de “O Jogo da Amarelinha” um clássico da literatura mundial?
A meu juízo, uma série de pontos fortes contribuíram para o sucesso de um livro escrito
Destaco alguns:
Primeiramente, ele consegue integrar técnicas sofisticadas voltadas para fluxo da ciência com cenas banais do dia a dia. Em segundo lugar, o panorama político de países como a turbulenta Argentina tendo como pano de fundo Paris e Buenos Aires.
Salatiel Soares Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Energia pela Unicamp.
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