Uma tese de doutorado intitulada “A ameaça verde sobre Minas”, de Guilherme Costa Pimentel, trouxe à tona uma importante análise sobre a influência da Ação Integralista Brasileira (AIB), em Minas Gerais, com foco em Santa Rita do Sapucaí, cidade que se tornou um dos maiores redutos deste movimento no estado.
Fundada em 1932 por Plínio Salgado, a AIB tinha como objetivos promover um regime autoritário, nacionalista e corporativista, inspirado no fascismo italiano e no nazismo alemão. O movimento defendia o nacionalismo extremo, o autoritarismo com um “líder carismático”, e o corporativismo, com a organização da economia sob controle estatal. A AIB também se opunha ao comunismo e se caracterizava por sua ala paramilitar, a “Legião de Ferro”, que utilizava violência contra opositores políticos.
Integralismo em Santa Rita do Sapucaí
A Resolução Nº 04 publicada em março de 1934 estabelecia o título de Cidade Integralista aos municípios que se distinguiam em sua campanha pelo sigma (símbolo do integralismo). O título era outorgado aos municípios em que Plínio Salgado observava que os militantes demonstravam elevada disciplina e entusiasmo. Cabia ao Chefe Nacional, guiando-se por critérios pessoais, a prerrogativa de conceder tal denominação a uma cidade. Os municípios cujos núcleos haviam experimentado notório crescimento numérico e que conseguiram fundar subnúcleos em seus distritos tornavam-se “Cidades Integralistas”, o que aconteceu com Santa Rita do Sapucaí, em novembro de 1934.
Expansão do integralismo em Santa Rita do Sapucaí
Em meados de 1935, o Chefe Nacional visitou Santa Rita do Sapucaí e encontrou pouco mais de 80 camisas-verdes. Prometeu retornar quando a cidade contasse com trezentos integralistas. Três meses após a sua visita, informaram-no de que ele já poderia retornar, uma vez que a cidade formou setecentos camisas-verdes. Nessa ocasião, o Chefe Municipal de Santa Rita do Sapucaí garantiu que já não existia na cidade um único prédio digno de ser a sede da AIB, porque todos eram pequenos demais para abrigá-los.
A AIB, em Santa Rita do Sapucaí, se organizava por meio de centros de irradiação, que eram núcleos de militantes responsáveis por espalhar a ideologia para as cidades vizinhas. Estes centros promoviam cursos de alfabetização, ações de caridade e supervisionavam outros núcleos, nas regiões próximas. O movimento local também possuía um jornal denominado Aço Verde, que defendia os ideais integralistas, refletindo o discurso nacionalista e cristão do movimento. Em uma citação, disseram os seus redatores locais: “O Integralismo é gigantesco, é grandioso, é sublime, porque em suas dobras estão arraigados os sentimentos, as tradições e a grandeza espiritual da ‘Raça Brasileira’”.
A fundação de Escolas Integralistas era comum e obedeceu ao desenvolvimento do sigma. Em setembro de 1935, o jornal Anauê! assegurou que estavam funcionando doze escolas integralistas em Minas, dentre elas, em Santa Rita do Sapucaí.
Manifestações públicas em Santa Rita do Sapucaí
Manifestações em vias públicas estavam proibidas no Brasil durante a década de 1930 devido ao contexto de instabilidade agravado pela ascensão do governo de Getúlio Vargas. Ainda assim, era comum que integralistas uniformizados e em grupos fossem assistir às missas ou participassem de procissões e eventos cívicos. Era desejo da AIB normatizar cada aspecto do cotidiano de seus membros e não cabia aos integralistas dissociar atividades de cunho privado da militância pelo sigma.
O movimento utilizava datas cívicas como oportunidade para exibir a sua força. Em 7 de setembro de 1935, os integralistas de Santa Rita do Sapucaí participaram de uma cerimônia de hasteamento das bandeiras nacional e do sigma, seguida por uma missa e um desfile militarizado.
Em outubro de 1936, camisas-verdes locais realizaram uma cerimônia denominada “Noite dos Tambores Silenciosos”. Nesta ocasião, afirmaram que foi preciso interromper o tráfego em frente ao núcleo, pois havia mais de mil e duzentos camisas-verdes e duzentos simpatizantes assistindo à comemoração.
No ano seguinte, conforme o jornal A Offensiva, as únicas comemorações do “Dia da Pátria” na cidade foram integralistas. Segundo o documento, as solenidades teriam se realizado apesar das perseguições do delegado e da proibição expedida pelo governo.
Segundo Pimentel, a relação do integralismo com a Igreja Católica foi um aspecto fundamental para o crescimento do movimento. Os integralistas católicos realizavam missas exclusivas e o movimento defendia que, uma vez no poder, o Estado Integralista concederia à Igreja Católica um status superior ao das demais igrejas cristãs. Como exemplo dessa prática, ocorreu, no segundo aniversário do núcleo de Santa Rita do Sapucaí, uma missa celebrada para os integralistas católicos, sem menção a cultos e eventos dedicados a outras religiões.
Presença política
A AIB era conhecida pela sua crítica à política tradicional, que consideravam divisiva e corrupta, mas conseguiu conquistar representações políticas, contrariando o discurso inicial. Se, pouco tempo antes, o integralismo havia refutado a ideia de tomar parte na política brasileira, acabou por definir a via eleitoral como caminho para que Plínio Salgado assumisse a presidência. A AIB intensificou as justificativas para o comparecimento dos seus integrantes às urnas, através do uso intensivo de seus mais de 180 jornais, espalhados pelo país.
Os camisas-verdes estavam convencidos de que a participação em eleições poderia soar contraditória, mas o Aço Verde, jornal integralista de Santa Rita do Sapucaí, em março de 1935, defendeu a participação do sigma nas eleições. Em artigo denominado “Por que vamos às urnas?” o jornal opinou: “Nessas circunstâncias a que fomos levados pelo ódio, pela inveja e pela intriga dos que põem a pátria abaixo dos seus sentimentos patrióticos era, pois, forçoso, que agíssemos.” Nas eleições do ano seguinte, o integralismo em Santa Rita do Sapucaí conseguiu eleger dois vereadores e um juiz de paz e assim registrou o núcleo integralista local: “Apesar da poderosa influência da maçonaria e do poder de grandes fazendeiros, o movimento conseguiu se impor na cidade.”
O fim do integralismo
A queda do integralismo ocorreu com a instauração do Estado Novo, em 1937, quando Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e se consolidou no poder. Nesse período, a AIB teve suas atividades proibidas, assim como outros grupos políticos. Desse modo, o integralismo foi desmantelado e seus líderes, como o próprio Plínio Salgado, perseguidos. Com a repressão do regime de Vargas, a AIB perdeu espaço e as suas atividades foram encerradas, definitivamente, no país.
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