-Como foi a vinda da sua família para Santa Rita?

Meu pai tinha um irmão que gostava de jogos e Cassinos e aqui no sul de Minas tinha muito. Em uma das visitas à região, meu pai veio junto e gostou tanto da cidade que resolveu ficar. Ele arranjou amizade com o Senhor Carmelo Carneiro de Abreu que o convenceu a viver aqui.

Em sua vinda para Santa Rita, abriu um dos primeiros salões da cidade e foi o barbeiro de Delfim Moreira. Seu estabelecimento mudou de endereço várias vezes. Quando eu era criança, ficava à Rua Cel Antônio Moreira, no mesmo local da Casa ABC. No tempo em que viveu aqui, também chegou a escrever para um jornal chamado “A Sogra”.

Como era o seu pai?

Meu pai era muito reservado. Por ter estudado em um Colégio de Frades, era uma pessoa muito desapegada. Sobre a sua família, dizia apenas que o avô havia morrido na Guerra do Paraguai e me mostrava algumas fotos. Só conheci a história dos meus antepassados quando fui pegar um livro na feirinha em frente ao Mercado e o Cláudio, que lá estava, se dispôs a fazer uma pesquisa.

Como isso aconteceu?

Eu fui tirar um livro e pediram meus dados para fazer o cadastro. “Maria Aparecida de Albuquerque” – eu disse. E o João Paulo perguntou de onde vinha o meu nome: “Vem do Norte, Nordeste.” E ele quis saber um pouco mais sobre a minha família. Quando eu disse o pouco que sabia, o Cláudio se dispôs a fazer uma pesquisa mais aprofundada e me mandou, dias depois.

O que ele descobriu?

Ele disse: “A senhora é bisneta do primeiro herói e mártir da Guerra do Paraguai. Ele foi reconhecido em duas oportunidades. Na primeira vez, quando combateu uma epidemia de cólera no Nordeste, enquanto ninguém queria permanecer no local. Faltando dois anos para se formar, enfrentou a doença e salvou inúmeras vidas. Depois de formado em Medicina, ingressou na Marinha e tornou-se segundo-tenente. Em um navio que servia no Pará, indispôs-se com o Comandante e tal episódio culminaria em um castigo imposto pelo Ministro da Marinha que, indiretamente, o levaria à morte. Pouco antes da guerra do Paraguai ter início, estava em um vapor no Mato Grosso, a embarcação Anhambahy, quando no dia 6 de janeiro de 1865, foram cercados pelos Paraguaios. Eles o degolaram, arrancaram suas orelhas, penduraram sua cabeça em um mastro e a enviaram ao seu execrado chefe.” Por muitos anos, minha avó recebeu uma pensão do governo pelo acontecido ao seu pai.

Onde sua avó vivia?

Minha avó nasceu no Pará e estudou no Colégio Sion da Bahia. Quando se casou, veio para Areias, no estado de São Paulo, onde nasceu o meu pai. Com a morte do meu avô paterno, aos 48 anos, ela mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estavam os seus parentes.

Seu bisavô já vinha de família importante?

Meu bisavô não foi o primeiro na família a ficar marcado na história. Seu pai, Francisco Maria de Freitas Albuquerque, havia sido Ministro do STF e era irmão de um Monsenhor chamado Félix Maria de Freitas Albuquerque, confessor do Imperador e da Imperatriz.

Por parte de mãe, qual é a origem da família?

Meu avô por parte de mãe era italiano. Começou a vida na cidade quando veio para trabalhar na construção da Estrada de Ferro com o senhor Adami. Quando juntou um dinheirinho, montou uma venda perto de Pouso Alegre e depois trabalhou de “ameia” em uma terra do Coronel Joaquim Inácio, a Fazenda Delta. Lá, ele plantava de tudo um pouco e vinha vender no mercado. Com o passar dos anos, comprou uma máquina de beneficiar café e arroz, quase em frente à Escola Normal. Naquela descida para a Várzea, tudo era dele. Ele montou uma fecularia e um criadouro de Bicho da Seda, para vender os casulos. Também criava gado e tinha um pomar. Meu avô foi comprando tudo, do final da Rua da Pedra, até a altura da Rua do Queima. Seu nome era Francisco Pisserchio. Com a sua morte, minha avó vendeu parte do terreno ao Centro Espírita, por um preço simbólico.

A senhora foi ajudada por Sinhá Moreira?

Ela custeou meus estudos. Estive na casa dela para pedir para estudar e fui muito bem atendida. Na mesma hora pediu que eu tomasse as providências para iniciar o curso de admissão. Meu pai até chegou a escrever uma carta em agradecimento ao gesto que Sinhá teve. Assim que me formei na Escola Normal ela conseguiu um emprego para mim nas Casas Pernambucanas, com filial aqui em Santa Rita. Lá permaneci por 15 anos e depois mais 15 na Escola de Eletrônica. Em uma época em que não havia calculadora, eu precisava fazer as contas todas de cabeça, produzir as matrizes para as provas, datilografar as apostilas inteiras e montá-las para os alunos.

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