Coluna do Carlos Romero

Histórias assustadoras acontecidas (ou não) em Santa Rita do Sapucaí

Já ouvi muitas lendas sobre fatos e lugares assustadores de Santa Rita do Sapucaí. Não há quem prove, mas também não há quem duvide de que existe muita coisa escondida debaixo de pedras e casarões que ainda resistem à modernidade. Quando era criança, frequentava com o meu pai o salão das Mimosas Cravinas e ouvi um vigia do extinto clube contar quando acordou numa noite qualquer e avistou um bailão de pessoas mortas, bem ali à sua frente. Também soube de muitas lendas sobre o Mato Sanico, sobre a própria residência do senhor Sanico Telles (que diziam ser mal assombrada) ou de temida loira do banheiro que, mais tarde, descobri que assustava todas as escolas do planeta.

Algo que sempre me intrigou foram as ruas da cidade. Hoje já não é tanto, mas se você perguntasse, há uns 10 anos, quais eram as ruas mais “carregadas”, certamente saberia que eram o Beco do Saci, a Rua 13, a Cel Joaquim Inácio, Rua do Queima e outras… Já vi muita gente dizer sentir uma coisa estranha ao transitar por estes lugares e tal percepção parece ter arrefecido um pouco com o asfaltamento das ruas.

Crianças com “quebranto”, até poucos anos, era coisa muito normal. Numerosas eram as banzedeiras “especializadas” em retirar um trem esquisito que, inexplicavelmente, alguns agourentos transmitiam só de olhar. Era uma espécie de pava… As crianças eram as principais vítimas e, quando começavam a dormir demais, ir mal na escola ou ficar um pouco “revortozas”, os pais tratavam de quebrar o feitiço.

Outro fato que me chamou muito a atenção na infância foi quando brincávamos na rua de casa quando uma vizinha, quase da nossa idade, lançou um colchão de molas do segundo andar que se espatifou em chamas em cima da calçada. A molecada parou o pique-vara para ver o que estava acontecendo e todo mundo correu para a tal casa que, até então, parecia estar pegando fogo. Mal chegamos à porta, ouvimos uma choradeira danada. A menina dizia para os amigos que o colchão se incendiou do nada e vimos quando uma labareda riscou a parede incendiando um terço gigante de madeira, dependurado na parede. (Será que eu vi isso mesmo? kkk) Em poucos segundos, uma fumaça preta começou a sair de dentro do guarda-roupas e as cobertas ficaram em chamas, contidas pelos vizinhos. Não me lembro se depois daquele episódio tomei contato com fenômenos como aquele, mas tudo pareceu muito real naquela noite.
Em rodas de conversas, em casa ou na rua, ouvi histórias sobre uma imensa mão dourada que teria aparecido em uma pedra debaixo do Santo Cruzeiro e mantido uma criança presa por vários dias. Também soube por um amigo da história impressionante de trabalhadores rurais que, até pouco tempo, se encontravam em uma fazenda nas redondezas do Vintém para presenciar um tal “Braseiro do Espírito Santo”. Segundo contavam, em determinada hora da noite, tudo ficava fluorescente. Gravetos, insetos, folhas e até o chão ganhavam uma tonalidade verde luminescente e dava até para levar os objetos brilhantes para casa.
Na adolescência, lembro da visita que o famoso Padre Quevedo fez à ETE para apresentar um curso de parapsicologia. Naquele fim de semana, cansei de ouvir o sacerdote dizer que tudo tinha uma explicação: “Isso non ecxiste!” E o homem enfiou um alfinete no pescoço de um convidado sem que ele percebesse, decorou o nome de umas quinhentas pessoas da plateia e até enfiou a haste inteira dos óculos no prório nariz. O ponto alto foi quando chamou o Harley no palco e o colocou em estado de hipnose, fez com que ficasse suspenso por duas cadeiras (na cabeça e pontas dos pés) e preparou o gran finale: colocou um paralelepído sobre a barriga do rapaz desacordado, pegou uma marreta e depois a bordoada sem dó. Não é que o concreto rachou e Harley continuou dormindo como se nada tivesse acontecido? Hoje eu me lembro dessas passagens e já nem sei mais se foi verdade ou mentira. O negócio é que vi muita coisa estranha, duvido de tudo, mas não desacredito de nada.

(Carlos Romero Carneiro)

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