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Empório de Notícias: há uma década vendendo papel, mano…

“Vocês querem me vender papel, mano?” Foi o que ouvimos em outubro de 2007, quando montamos uma tenda em frente à Matriz para vender os exemplares da primeira edição do Empório. Gostei tanto da pergunta que até a usei em um trecho do meu primeiro romance, Conexão Hirsch. De lá para cá, foram 117 publicações e centenas de histórias. Recebemos incentivo, fomos motivados e enfrentamos diversos desafios. Não sabemos até que ponto contribuímos com a história e a cultura de nossa comunidade, mas fizemos tudo com muito boa intenção e com o firme propósito de oferecer um olhar construtivo e otimista, através de um conteúdo de qualidade e com uma impressão que resistisse ao tempo.

Certa vez o Nando Almeida me perguntou: “E quando as histórias acabarem?” Respondi: “Quando acabarem as histórias, termina a missão do jornal”. O interessante é que a construção da memória acontece dia após dia e não cessa nunca. Protagonistas dos fatos acontecidos há 10 anos começam a merecer um olhar distanciado e passam a integrar as memórias que resgatamos hoje.

Muitas histórias, grandes amizades. O propósito sempre foi conhecer pessoas e registrar experiências que poderiam ser acessadas, como em uma “prateleira de armazém”. A possibilidade de obtermos contato com o maior número possível de passagens, desvendar histórias e trazer à tona suas aventuras foi o que sempre nos motivou. Através das reportagens, buscamos proporcionar inspiração à comunidade e eternizar conhecimentos que, certamente, seriam esquecidos. Conhecemos muitas lendas, garimpamos jornais, fotografias e documentos e desvendamos algumas histórias que nos ajudaram a compreender quem somos. Esta é, na realidade, a grande missão do historiador: avaliar as bases para conhecer o todo.

Erramos bastante também… Lembro quando entrevistei uma senhora de 100 anos e, ao exaltar sua memória impecável, troquei seu nome meia dúzia de vezes enquanto produzia o texto. Também recordo quando enviei uma edição à gráfica em que a matéria de capa tinha os dizeres: “Fulano de tal, firme, forte e feliz”. O jornal ficou pronto no mesmo dia em que o entrevistado morreu. Tive acesso de riso quando apliquei a foto de duas bonitas moças na capa com destaque para uma matéria interna sobre “Lebrinha e Macarrão”, causando certo constrangimento. Também me emocionei em algumas ocasiões e desejei que outras pessoas tivessem a oportunidade de ouvir aquilo. “Mais gente deveria estar aqui comigo neste momento.” – pensava enquanto alguém desvendava um passado a que ninguém mais teria acesso.

Ao vasculhar a memória em busca de lampejos que marcaram estes anos todos, me recordei da passagem em que decidi produzir uma matéria sobre a Associação José do Patrocínio. Ao tomar conhecimento de que um dos expoentes daquela época ainda estava vivo, pedi informações sobre sua localização e ouvi de um amigo o conselho: “Chega na esquina da Lajes Pré e pergunta como encontrar o Zé Pequeno.” Lá fui eu, sem saber quem era o entrevistado. Como foi sugerido, encontrei um senhorzinho na esquina e pedi informações: “O senhor poderia me dizer onde encontro o Zé Pequeno?” E ele respondeu: “Aqui mesmo. O Zé Pequeno sou eu”. E tinha início uma matéria que inspiraria o jornalista Jonas Costa a produzir o seu excelente livro sobre Maria Bonita. Por falar nele, foi com o Jonas, meu compadre e amigo, e com o talentoso Evandro Carvalho, que criamos o Empório. Eles estavam comigo nas primeiras edições. Sem eles, este projeto não teria saído do papel.

Gostaria de agradecer aos nossos colunistas pelo apoio de sempre. Em especial ao professor Ivon, que está conosco desde o primeiro número. Também agradeço aos apoiadores que chegaram em seguida e se tornaram grandes amigos. Não poderia me esquecer do Inatel, que nos apoia desde o primeiro número e da ETE, que esteve conosco até o final de 2015. Muito obrigado aos anunciantes e assinantes que possibilitam a distribuição dos exemplares, gratuitamente, para metade das residências de Santa Rita.
Para finalizar, gostaria de agradecer à Clara Romero, minha mãe, pela revisão dos textos em todos estes anos e aos representantes comerciais que passaram por aqui. Tem sido uma experiência incrível vender cultura e história em Santa Rita e me sinto orgulhoso em tomar parte neste projeto. Muito obrigado a todos, desculpem alguma coisa e até breve!

(Carlos Romero, editor do Empório de Notícias.)

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