Doce de banana da venda do Sr Elias (Por Nídia Telles)

Quando menina, de vez em quando, ganhava do pai ou da bisavó ou da madrinha uma nota de 5 cruzeiros com o Barão do Rio Branco, bem bigodudo. Mais que depressa dava um jeito de usá-la para saciar algum desejo reprimido.

Meu desejo tinha sempre endereço certo: esquina da Rua Coronel Francisco Palma com a Rua Coronel Erasmo Cabral.

Nessa esquina já foi a frutaria do Tonhão e, passando por lá, hoje vi que é um bar chamado Academia. Eu que sou dada a imaginar cenas fui logo criando uma na cabeça. A mulher comenta com a amiga:

– Não sei por que meu marido não consegue perder a barriga. Faz academia todo dia depois do serviço e a barriga só cresce. Parece até que fica tomando cerveja…

Mas na minha memória ainda existe lá uma casa de um rosa antigo. Com cara de passado também era a venda do Sr. Elias Murad, um “turco” grande de gestos largos e fala também grandiosa. A venda tinha um balcão comprido e uma vitrine pequena e tentadora. Era nela que ficavam expostos os tesouros tentadores feitos por Dona Rosa: docinhos de banana que eram um verdadeiro “manjar dos deuses”. Eu, que nem sou lá muito de banana, adorava o doce. Tinha a forma de um retângulo de 5X8 centímetros, marronzinho, macio, com um leve toque de canela misturado com o sabor da banana cozida com açúcar e, quando comido em pedacinhos (para economizar), derretia na boca. Custava 2 cruzeiros.
Eu ia lá e comprava um doce. Seu Elias pegava meu dinheiro e dizia com um sotaque diferente:

– Três cruzeirrrros.
O erre dele era mais comprido que o nosso e eu achava aquilo muito bonito. Pegava minha nota. E continuava:
– Cinco cruzeirrros.

E ia colocando em minha mão duas notas (um Almirante Tamandaré e um Duque de Caxias) ou três Tamandarés.

Como ainda não era versada nessa coisa de economia prática, recebia o troco e saía toda feliz achando que tinha comprado o doce e ainda continuava com 5 cruzeiros, só que agora com mais cédulas. Como eu era inocente e tolinha!

Até hoje gosto de quem volta troco dessa forma, contando até chegar ao valor da nota dada em pagamento. Não dá ideia de que a gente não gastou nada?

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