(Por Salatiel Correia)
Nestes estranhos tempos de contestação da democracia, em que vozes antes marginais ganham espaço nas tribunas mais altas da República, senti-me impelido a refletir sobre a fragilidade do nosso sistema político. O que antes parecia sólido — eleições regulares, alternância de poder, respeito às regras do jogo — hoje se mostra inquietantemente vulnerável. Foi essa inquietação que me levou aos escritos dos professores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, da Universidade de Harvard, autores do impactante “Como as Democracias Morrem”. Logo nas primeiras páginas, especialmente no capítulo inaugural intitulado “Medo de Perder”, encontrei chaves interpretativas para compreender a instabilidade que ronda o Brasil — e também os Estados Unidos.
Levitsky e Ziblatt partem de uma constatação poderosa: a política, em seu núcleo, não é apenas uma disputa por ideias, mas sobretudo por poder. E quando os atores políticos, temendo perder esse poder, passam a ver seus adversários como inimigos existenciais, os pilares da democracia tremem. Tal como os autores evidenciam ao revisitar a campanha eleitoral dos anos 1800 nos EUA — quando os federalistas, ciosos de sua posição hegemônica, enfrentaram os democratas-republicanos de Thomas Jefferson — o medo da derrota levou os detentores do poder a usar estratégias que ecoam práticas de democracias frágeis. Espionagem, manipulação da opinião pública, tentativas de limitar o sufrágio: tudo em nome da preservação de um domínio que parecia ameaçado.
O que torna essa narrativa especialmente perturbadora é o espelhamento com a experiência brasileira contemporânea. Em momentos de ruptura institucional ou de crise econômica, setores dominantes muitas vezes recorrem a expedientes semelhantes, especialmente quando se veem pressionados por forças populares emergentes. O Brasil, como nação periférica do capitalismo, vive com maior intensidade as consequências desse “medo de perder”. A demonização do adversário, o uso das redes sociais para espalhar desinformação, o questionamento prévio da legitimidade de eleições — tudo isso integra um repertório que mina as bases da democracia por dentro, sem necessidade de tanques nas ruas.
Se nos Estados Unidos o medo de perder se expressou, nos últimos anos, na recusa de líderes em reconhecer resultados eleitorais legítimos — culminando na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 — no Brasil vimos fenômeno semelhante com a contestação dos resultados eleitorais de 2022, manifestações golpistas e a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Em ambos os países, o medo de perder levou setores significativos da elite política e de sua base social a colocarem em xeque o próprio regime democrático.
Contudo, há diferenças que não podem ser ignoradas. Os Estados Unidos, com sua longa tradição institucional, ainda dispõem de freios e contrapesos que, embora tensionados, resistem. Já o Brasil, com instituições mais jovens e uma cultura política frequentemente personalista e patrimonialista, revela-se mais vulnerável ao colapso de suas estruturas democráticas. No centro do capitalismo, o medo de perder é combatido por instituições relativamente sólidas; na periferia, ele pode ser catalisador da própria desagregação da ordem democrática.
Em suma, o que Levitsky e Ziblatt nos mostram é que o medo de perder é inerente à política, mas sua gestão depende da maturidade das instituições e da disposição dos líderes em subordinar seus interesses pessoais ao bem maior da democracia. No Brasil e nos Estados Unidos, o desafio é comum, mas os riscos são desiguais. No país mais poderoso do mundo, o medo abala — mas dificilmente derruba. Na periferia do sistema, como o Brasil, ele pode significar a própria ruína do pacto democrático. É esse o alerta que não podemos ignorar.
Salatiel Soares Correia é engenheiro, administrador de empresas, mestre em energia pela Unicamp, Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás. É autor de nove livros.
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