Como foi o seu dia?

(Carlos Romero Carneiro)

Há quem diga que, no início de sua carreira sacerdotal, o padre Jesuíta, Jorge Mario Bergoglio, teria integrado uma comitiva em visita à Escola Técnica de Eletrônica “Francisco Moreira da Costa” (ETE FMC). Há alguns anos temos buscado documentações que comprovem a passagem do Papa Francisco pela escola administrada pela Ordem Jesuíta, mas ainda não obtivemos êxito em nossas pesquisas. O fato é que os doze anos de atuação deste que, ao meu ver, foi o mais relevante representante da igreja católica, desde a sua fundação, estão repletos de valores que compreendi nos tempos em que fiz ETE e nas quase duas décadas em que tenho prestado serviços à instituição. Assim como Bergoglio, conheci padres que não cansavam de dizer que “oração é obra”. Para eles, trabalho e exemplo valiam mais do que as próprias preces.

Quando os noticiários invadiram os meios de comunicação para informar o seu falecimento, soube que – anos antes – o Papa Francisco havia feito uma ligação para o padre Júlio Lancelotti, que também tem sido muito perseguido por pessoas que não compreendem os princípios fundamentais do cristianismo e, ao se identificar, perguntou: “Como foi o seu dia?” Quem convive ou conviveu com os Jesuítas sabe que esta é uma pergunta bem comum entre eles, já que a régua que usam para avaliar se uma jornada foi produtiva são as obras que empreendem. Talvez, por isso, os Jesuítas tenham desempenhado um trabalho tão substancial e competente em Santa Rita do Sapucaí. A missão de fazer vingar uma escola de tecnologia pioneira na América Latina foi como uma oração diária, missão rotineira, sem deixar de lado a vida sacerdotal e a orientação espiritual na comunidade em que estavam inseridos.

Atento às obras, eu me lembro que ainda trabalhava na ETE quando, pouco antes de se mudar, o padre Ramón F. Cigoña me procurou para desabafar: “Não é possível que eu vou embora sem ver você casado!” Pois o amigo Jesuíta preparou tudo e, na presença dos nossos pais e irmãos, realizou uma cerimônia simples, com direito a marcha nupcial tocada no celular. Apesar de não ser católico, fiquei feliz com aquele gesto e sempre fui muito grato aos meus amigos jesuítas.

Assim como eles, Papa Francisco era um homem simples, avesso às pompas, como foi o saudoso padre Raul. Era um sacerdote amoroso e tolerante como os estimados Jaime e Furu. Sabia apreciar a vida, como o meu amigo, Irmão Salvador. Tinha um grande senso de humor como o padre Ramón e era trabalhador e dedicado como os queridos Dom Vaz, Elcio e Guy Ruffier.

Certa vez, ouvi do Padre Guy sobre o episódio em que rezou na Candelária a missa de sétimo dia pela morte do estudante Edson Luiz, encurralado por agentes da repressão, em tempos de ditadura. Também soube que padre Raul batia na porta do DOPS para avisar que estava ciente de que algum aluno havia sido preso, enquanto foi vice-reitor da PUC. Alguma semelhança com Bergloglio? Muitas! Ambos eram Jesuítas. Todos eram bons e verdadeiros cristãos.