Tivemos contato, recentemente, com um livro completamente ilustrado com fotografias, datado de 1918, de autoria de Roberto Capri. Com dedicatória feita pelo próprio autor ao então “Presidente do Estado de Minas Gerais”, o Dr. Delfim Moreira, o projeto traça um panorama das principais cidades do estado, dentre elas, Santa Rita do Sapucaí. Faremos, a seguir, um resumo de como era a nossa cidade, há mais de 100 anos, através de informações contidas neste importante trabalho:

Em 1918, Santa Rita do Sapucaí fazia limite com Pouso Alegre, Silvianópolis, São Gonçalo do Sapucaí, Águas Virtuosas, Cristina, Pedra Branca, Itajubá e Paraisópolis. Sua extensão abrangia 18 léguas quadradas e a população era de 20 mil habitantes, sendo 3500 moradores da cidade. Compreendia quatro distritos de paz: Santa Rita do Sapucaí (sede da cidade e do município); São Sebastião da Bela Vista, a 16 quilômetros; Santa Catharina (Natércia), e Conceição da Pedra, a 36 quilômetros da sede. No judiciário, constituía um Termo da Comarca que abrangia os municípios de Santa Rita e de São Sebastião da Pedra Branca (Pedralva).

Praça Santa Rita.

O município era servido pela Rede Sul-Mineira, tendo as estações Affonso Penna (na sede), Porto Sapucahy (a 12 quilômetros), Santa Catharina (a 30 quilômetros), São Sebastião da Bella Vista (a 15 quilômetros) e Conceição da Pedra (a 42 quilômetros). Havia navegação fluvial no Rio Sapucahy, tendo um vapor que partia às quartas-feiras e que retornava aos sábados. Ele partia do Porto Sapucahy e conectava as localidades de Silvianópolis, Volta Grande, São Gonçalo e Paredes (Distrito de São Gonçalo).
Naquele momento, ainda não havia conexão da estação Affonso Penna com a cidade, através da ponte metálica. Ainda utilizavam uma velha ponte de madeira para realizar a travessia. Cogitava-se realizar a instalação da nova ponte naquele mesmo ano, já que todo material necessário já estava disponível.

Ao descrever a geografia do município, o autor citou o terreno como acidentado, sendo constituído por contrafortes e ramificações da Serra de São João que produziam: a serra da Manoela (entre o distrito da cidade e o de Santa Catharina) e as serras do Bom Retiro, Mata Cachorro e Bella Vista (entre o distrito da cidade e o da Bella Vista).

Roberto Capri destacou que, dentre nossas principais quedas d’água, destacava-se a Cachoeira de São Miguel, no Rio Turvo (em Santa Catharina, atual Natércia), com salto de 61 metros. O autor informou que tal queda havia sido aproveitada pela Companhia Força e Luz Minas Sul, com sede em Santa Rita, para geração de energia elétrica.

O Mercado Municipal

No ano de 1918, a principal lavoura era o café, que já era produzido por aqui desde 1870. A safra média anual era de 400 mil arrobas, enviadas para o Rio de Janeiro e Santos, com finalidade de exportação. O cultivo do milho e do feijão também era intenso, além da produção de fumo, base da economia local no século XIX.

Na pecuária, havia uma produção intensa de manteiga e de queijo, que era enviada – principalmente – para o Rio de Janeiro. Havia, na cidade, três fábricas de queijo e uma de caseína. Além delas, havia uma fábrica em Bella Vista e outra na estação do Porto Sapucaí.

Além da igreja Matriz, havia a Capella de Nossa Senhora Apparecida e a igreja de São Benedito (ainda em construção). A média anual de batizados era de 650, sendo 110 a média anual de casamentos. O vigário chamava-se Revmo. Padre Ataliba de Mello.

O início da Rua Cel. Antônio Moreira da Costa

Como descrição sobre nossa localização o autor relatou “uma ampla bacia emoldurada de morros e colinas ponteadas de alegres casinhas – manchas brancas orladas de verde. A cidade se espelha, sonhando o seu brilhante futuro, nas águas do Sapucahy.”

Capri assinalou que, por muitos anos, a cidade permaneceu “abandonada a uma vida modorrenta, sem melhoramento e sem conforto”. Afirmou que, “como por encanto, quase milagrosamente, foi se transformando em um centro civilizado e moderno. Registrou que as praças eram cuidadas e suas ruas largas, retas e abauladas. Ressaltou que havia um gracioso jardim, com “edifícios públicos em construção elegante, vivendas particulares em estilo moderno e institutos de ensino de aspecto deslumbrante e alegre.”

O Clube Literário.

Havia, em 1918, quatro praças na cidade. O autor descreve a praça Santa Rita com o nome de praça Doutor Delfim (“Vasta e encantadora explanada, ajardinada caprichosamente, em cujo centro se ergue a bella igreja Matriz.”). Fez referência à praça Coronel Joaquim Ribeiro (que depois se transformou em praça Ruy Barbosa), “onde se admira o sumptuoso edifício do Club Literário”. Havia, também, a praça do Mercado (atual praça Delfim Moreira Júnior) e a praça do Largo do Rosário (local onde hoje está localizada a Escola Estadual Dr. Delfim Moreira, atual Praça Américo Lopes).

A Silvestre Ferraz – Rua da Ponte.

A principal via de escoamento da cidade era a rua Sylvestre Ferraz (rua da ponte), onde encontravam-se as casas de negócios, redação e oficina do jornal “Correio do Sul” e a Coletoria Federal. O autor descreveu, também, “uma bela avenida com que a gratidão popular denominou de Delfim Moreira”.

Dentre os edifícios públicos, o documentarista destacou a Casa de Caridade “Antonio Moreira da Costa”, que localizava-se à rua Coronel Joaquim Ribeiro. Citou, também, o mercado, a cadeia, o Theatro Santa Rita, o Gymnasio, a Escola Normal, o Grupo Escolar, a distribuidora elétrica e o reservatório de água.

Havia, naquele ano, dois jornais na cidade: o “Correio do Sul” e o “Commercio e Indústria”. Também havia duas bandas de música, a Lyra Nova Aurora e a Corporação Tiradentes. O autor relatou a existência da Linha de Tiro 290 (com 180 associados), o time do Athletico Foot-Ball Club e o Tiradentes Club.

O Theatro Santa Rita possuía 200 cadeiras, 16 frisas, 14 camarotes, balcão para 60 pessoas, 40 cadeiras distintas e uma galeria para 300 pessoas.

O Cine-Theatro Santa Rita.

Ao citar o sistema de captação de água, destacou que a água era “puríssima e toda canalizada, sendo captada no alto da Serra do Mata-Cachorro.” Afirmou também o autor que a cidade era uma das poucas da região com rede de esgotos modelo.

A Caixa D’água.

No ano de 1918, o município possuía dois grupos escolares, quatorze escolas regulares, além do Instituto Moderno de Educação e Ensino (IMEE), com cinco seções: Gymnasial, Normal, Escola de Comércio, Curso de Artes e Ofícios e Aprendizado Agrícola. No ano anterior, foram contabilizadas 1580 matrículas em toda a rede de ensino, sendo 251 a mais do que em 1916. A frequência média, em 1917, foi de 688 alunos, contra 638 do ano anterior. Para melhorar a frequência escolar, a Câmara Municipal instituiu, em 1916, uma verba para ser distribuída entre todos os alunos que tivessem frequência absoluta em cada semestre, medida que gerou melhores resultados.

O IMEE – atual campus do Inatel.

Ainda no setor educacional, além das bolsas para alunos assíduos, havia dois caixas escolares, “Coronel Joaquim Inácio” e “Coronel Paultut”, anexos aos grupos escolares da cidade e de Santa Catharina (Natércia), para financiar os estudos de crianças pobres, distribuir merendas, oferecer roupas, objetos escolares, etc. Naquele momento, havia escolas rurais no seguintes locais: Pouso do Campo, Furnas, Timboré, Vintém e Bom Retiro (esta somente do sexo masculino).

O Grupo Escolar Delfim Moreira havia sido fundado há 9 anos e estava sob a direção do professor José A. Raposo de Lima. Em 1918, 430 alunos estavam matriculados, com frequência média de 285 alunos. Frequentavam o quarto ano 27 alunos, de ambos os sexos. Na escola noturna, o número de matrículas foi de 84 alunos, sendo a frequência média de 27. No final do ano, 29 alunos foram aprovados em 1917.

Fórum

Motivo de grande orgulho para a comunidade local, naqueles tempos, era o Instituto Moderno de Educação e Ensino. Fundado em 1912, era considerado uma das melhores instituições de ensino do Estado, sob a direção do senhor João de Camargo. Os exames oficiais eram realizados no Collégio Pedro II, onde os índices de aprovação eram substanciais. Desde o início, a Escola Normal (atual E.E. Sinhá Moreira) não funcionava no mesmo prédio do IMEE. O aprendizado agrícola era subvencionado pelo Governo do Estado e, por este motivo, o Instituto recebia alunos para estudar gratuitamente sobre a prática de trabalhos agrários. A Escola de Comércio e o Curso de Artes e Ofícios ofereciam aulas de taquigrafia e datilografia.

Ao avaliar a infraestrutura do IMEE, o autor (que percorreu as principais cidades de Minas Gerais para produzir o seu livro) afirmou que aquela era a melhor instituição de ensino do Estado.

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