Bom Retiro

A história dos engenhos, no bairro Bom Retiro, teve início por volta de 1899, quando João Laurindo da Fonseca passou a produzir rapadura, após construir uma grande roda d’água que existe até hoje no local. Com dificuldade, o produto era trazido em carros de boi para Santa Rita, nos finais de semana. Como o acesso era difícil, a viagem de, aproximadamente, 13 quilômetros era feita pelo meio da mata que contornava a serra que faz limite com Bela Vista.

O patriarca da família continuou a desempenhar seu trabalho até os 39 anos, quando faleceu precocemente e o engenho começou a ser tocado pelo filho Joaquim Laurindo. Seguindo a rotina iniciada no início do século XX, toda semana a produção era vendida em um espaço alugado da prefeitura, no extinto Mercado Municipal.

No final de 1964, a vida era dura para Joaquim Laurindo. O açúcar começava a chegar aos armazéns o que tornava a venda de rapadura insuficiente, para que pudesse alimentar seus quinze filhos. Na necessidade, surgiu a ideia de adaptar o antigo engenho e dar início à produção de cachaça artesanal. Seguindo os passos do vizinho Ozório Machado, que já havia iniciado sua produção anos antes, no dia 23 de março de 1965 houve festa no povoado, quando a família Roque da Fonseca produziu sua primeira “lambicada”.

Próspero nos negócios e respeitado pelos vizinhos, Joaquim Laurindo manteve liderança no bairro até a morte. Defensor incondicional da fauna na região, sempre cuidou dos canarinhos e não deixava que caçadores invadissem suas terras com gaiolas e arapucas. Os vizinhos contam que ele era uma pessoa muito fácil de conviver e que todos tinham muita confiança em suas decisões. Não raramente, recebia a visita dos amigos para ouvir sua opinião sobre algum problema particular. No Bom Retiro, seu nome e o de sua esposa, Maria da Conceição, continuam muito reverenciados pelos cerca de 900 moradores do bairro como um referencial de caráter e honestidade.

Ao visitar o bairro rural, notamos que o alambique ainda possui elementos do início da fabricação de rapadura, utiliza equipamentos dos tempos de Joaquim Laurindo e foi submetido a melhorias que otimizaram a produção. O bagaço da cana, antes depositado no ribeirão, hoje tem um destino certo, assim como o chamado “vinhoto”, utilizado como adubo por ser rico em potássio.

O alambique recebe visitantes de todos os cantos do Brasil e a cachaça está relacionada nos catálogos de alguns do mais reconhecidos degustadores. Domázio conta que a fama da cachaça no Bom Retiro é tão boa que chegou a receber a visita de turistas estrangeiros. Além da fazenda, administrada por Domásio e seu irmão Donésio, outros dois alambiques podem ser visitados: o do famoso “Nego do Osório” e o de Romilson Silvério.

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