Gente

As obras e o legado de Hélio Magalhães

Algumas pessoas pautam suas vidas na construção de bens materiais. Outras, arquitetam suas ações baseadas em cargos, reconhecimentos e honrarias. Mas existem aquelas que fazem da virtude a matéria-prima. Transformam o convívio em comunidade na argamassa para uma estrutura sólida e duradoura. Tais pessoas raramente são reconhecidas. Passam pela vida com discrição e não são cultuadas como comumente acontece com os detentores de importantes cargos. Para inverter a lógica, recordo um homem humilde e generoso, chamado Hélio de Barros Magalhães.

Homem simples do campo, Hélio não aprendeu o ofício em escolas ou faculdades. Como as crianças pobres de sua época, terminou o primário e formou-se na escola da vida. De servente de pedreiro, tornou-se construtor. Ajudou, com seu talento, a delinear o perfil da cidade.

De temperamento doce como o mel de abelhas que extraía, foi muito estimado pelos amigos. Talvez, pelas dificuldades encontradas na infância, nutriu um carinho especial pelas crianças e estava sempre disposto a agradá-las. No término das floradas, distribuía favos na vizinhança. Na véspera de natal, vestia-se de Papai Noel e oferecia balas, não somente na cidade, como nas comunidades rurais. Sempre ao seu lado, um cachorrinho marrento e de dentes afiados, inimigo nº 1 da molecada. Toquinho era um capeta em forma de pincher e contrastava com o gênio amistoso do dono.

No início dos anos 80, a Variant surrada de Hélio era vista estacionada aos pés do morro da Chacrinha. Coube ao mestre de obras chefiar a construção do barracão dos Democráticos onde, até hoje, é a sede da agremiação. Solícito que sempre foi, ajudava a criar os carros alegóricos, corria de um lado a outro com fiações e estava sempre disposto a ver o bloco se preparar para descer o morro. Até mesmo no desfile infantil, quando precisaram de um marujo para guiar o navio do Capitão Gancho, lá estava Hélio Magalhães, vestido de pirata a levar a embarcação.

Poucos sabem mas, além das centenas de casas erigidas pelo construtor, coube a ele produzir a usina da Cooperrita e as residências construídas por Dona Conceição, no morro do bairro Novo Horizonte.

Apesar das inúmeras obras, Hélio foi embora cedo. Pouco depois de completar 70 anos, deixou a vida e um legado de retidão e amizade que não pode ser esquecido.

(Carlos Romero Carneiro)

takefive

Share
Published by
takefive

Recent Posts

Quando tentaram fatiar Minas Gerais para criar um estado sul-mineiro

Por Carlos Romero Carneiro Várias tentativas foram feitas para desmembrar Minas Gerais para a criação…

13 horas ago

Os construtores de Santa Rita do Sapucaí

(Por Cyro de Luna Dias) Na minha casa, no início do século XX, vi Tonico…

13 horas ago

Grupo de teatro carioca fará duas apresentações, neste final de semana

Sempre envolvido com a cultura e com as artes, Milton Marques trará para Santa Rita…

1 dia ago

O santa-ritense que se transformou em fenômeno das redes sociais

O nome José Henrique Longuinho não é tão conhecido quanto ‘Zé Longuinho’, que ganhou a…

4 dias ago

Trabalhadores do café em Santa Rita do Sapucaí

(Por Elísio Rosa) Antigamente, em Santa Rita, a produção de café era realizada, praticamente, pelas…

4 dias ago

Coisas de cozinheiras

Por Rita Seda Visita de filha é assim: chega com o esposo e a mãe…

6 dias ago