Era prazeroso ver o trem chegar à estação, em Santa Rita. Ele trazia parentes das famílias locais, rolos de filmes e transformava vagões com diversos produtos manufaturados que abasteciam a cidade e matérias-primas para os produtos a serem industrializados. Os passageiros, em sua maioria, consistiam em viajantes e vendedores de produtos diversos para o comércio. Nos horários de chegada dos trens, charretes de aluguel ficavam ao lado da estação, estacionadas à disposição de quem chegava. Geralmente, esses meios de transporte eram usados pelos viajantes vendedores, que eram levados até ao hotel. Havia os moleques carregadores de bagagem que, por quaisquer centavos, levavam a carga nas costas, até o local determinado pelo recém-chegado. Às vezes, chegavam passageiros que se identificavam no hotel como fiscais do INPS. Em poucos minutos, a notícia corria e havia um corre-corre danado. Os patrões dispensavam, como num piscar de olhos, os seus funcionários do trabalho que não eram registrados, voltando ao serviço após a partida do fiscal.
Era muito triste a partida de entes queridos. Quando o trem apitava, o coração palpitava, as lágrimas rolavam. Ocorria o inverso, também. Quando os entes queridos chegavam, os corações transbordavam de contentamento e os abraços tomavam conta da cena.
A rede ferroviária que passava por Santa Rita era a RMV (Rede Mineira de Viação), que tinha como principal objetivo transportar produtos agropecuários produzidos na região, principalmente o café, que lotava o armazém da estação e os vagões cargueiros.
Era costume a gente ir, frequentemente, a Pouso Alegre de trem. Era uma viagem agradável. Às vezes, havia uma parada no Porto Sapucaí, se houvesse carregamento. Nunca se ouvia falar em acidentes, mesmo o trem cruzando estradas vicinais e trechos sem cancelas. Para a segurança dos trilhos, funcionários da rede que moravam à beira da linha, faziam a inspeção diária em cima de um trólebus de quatro rodas, tocado manualmente, com quatro funcionários. Cada um com uma vara para empurrar o veículo, geralmente à noite. Eu teria muito o que escrever sobre o trem e sua utilidade. Você que não conheceu o trem, tem uma saudade a menos na vida.
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