Colunistas

“Aquela casa rosa, ali na esquina

(Por Patrícia Vigilato)

“A casa foi perdendo um pouco de sua vida. O jardim já não era tão bonito como antigamente. Acho que as jardineiras já não tinham Amor Perfeito. (…) Aquela casa rosa ali na esquina… agora está triste.” Escreveu a jornalista Jandyra Adami Neves de Carvalho, há quase 40 anos.

Quem se preocupa com o patrimônio histórico-cultural santa-ritense tem percebido com inquietação as demolições e também as “revitalizações” que têm acontecido.

As referências históricas culturais são importantes mecanismos político e social de reconhecimento e proteção das diversas formas de existir que constituem cada canto da cidade e que dizem respeito às suas memórias, histórias e vínculos de identidade.

O tombamento e registro são apenas instrumentos que o Estado criou para reconhecer e proteger alguns dos bens culturais que existem e constituem o nosso país. Contudo, é fundamental que as comunidades identifiquem e preservem as referências, práticas, símbolos, rituais, ícones e entendam a importância da educação histórica cultural como conscientização da população sobre a necessidade de preservar, cuidar e se apropriar de sua história. As demolições e, até mesmo, as denominadas revitalizações que têm acontecido no município, invisibilizam a nossa memória.

“Aquela casa rosa, ali na esquina”, texto escrito por Jandyra Adami Neves de Carvalho, minha antecessora na Academia de Letras, Ciências e Artes de Santa Rita do Sapucaí – Alca, na edição nº 097 do extinto Jornal ‘O Correio’, do dia 11 de dezembro de 1982, é uma homenagem à Dona Lica – primeira proprietária da casa que fora construída no início da década de 1940 – e retrata, de forma singela, as belezas do que foi aquele espaço e é um afago para quem deseja (re)memorar essa parte da história da nossa cidade.

O texto escrito antes mesmo do meu nascimento e a falta da casa rosa na esquina, me atravessaram de tal maneira que resolvi registrar. A casa à qual Dona Jandyra escreveu que, após o falecimento de Dona Lica, perdeu um pouco da sua vida, já não existe mais. Tenho pensado que o apagamento da memória é um projeto desenhado para a humanidade. Como escreveu Ailton Krenak, importante voz da contemporaneidade, “o que nos resta é viver as experiências, tanto a do desastre quanto a do silêncio. Às vezes, nós até queremos viver a experiência do silêncio, mas não a do desastre, pois é muito dolorosa.”

Admin

Recent Posts

Conheça Márcio Fogolin: o Mestre

Márcio é paulista de nascimento, mas costuma dizer, com orgulho, que se naturalizou santa-ritense. Nascido…

13 horas ago

Os primeiros 10 anos da escola de eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí

Entre os anos de 1960 e 1970, a Escola Técnica de Eletrônica “Francisco Moreira da…

13 horas ago

Cidade se alegra com primeiro Irmão Redentorista

(Por Adjair Franco Ribeiro) Irmão Orlando Augusto Silva Cassiano nasceu no dia 10 de março…

13 horas ago

Documento revela que Papa Pio XI concedeu bênção de morte a santa-ritense

O Museu Histórico Delfim Moreira acaba de receber de Vera Lúcia de Valim Andrade um…

2 dias ago

O que mudou no Hacktown, após 9 anos?

(Por Erasmo Kringlein) Era 2016 e não sei bem quem teve a ideia. Talvez tenha…

2 dias ago

Janilton Prado conta como foi a atuação da Prefeitura durante o período de Hacktown

Secretário de cultura, esportes, lazer e turismo comenta sobre a atuação da prefeitura, durante o…

2 dias ago