Dia desses, o historiador informal, Edésio Magno Magalhães, publicou uma fotografia captada no final da rua Cel. Antônio Moreira da Costa e a cena chamou a minha atenção. O comércio estava fechado. Pela posição do sol, devia ser umas 8 e meia da manhã de um domingo. Na lateral direita, a data em que foi revelada: dezembro de 1982. Trinta e quatro anos atrás. Em primeiro plano, três amigos de uma vida inteira: José Ribeiro da Silva, que tornou aquele morro conhecido pelo seu nome; o comerciante Gumercindo de Souza e meu avô, Antônio Lemos Carneiro. Três maçons.
Naquele momento, o meu avô tinha setenta anos. Quase a idade de morte do meu pai: sessenta e oito. Morreria seis anos depois. Meu pai tinha trinta e sete, quase a minha idade atual. Eu tinha cinco. Isso talvez mostre que, a cada quarenta anos, boa parte de uma geração se prepara para dar lugar a outra.
Tão interessante quanto esta noção de tempo que só ganhamos bem mais tarde, é a visão que a vida nos oferece quando nos distanciamos do presente. Gumercindo não tinha ideia de que, no ano seguinte, teria um neto, o Breninho. Antônio mal chegou a conhecer a sua neta: Joice. Trinta e quatro anos depois, Joice e Breninho vivem juntos. De certa forma, deram continuidade à amizade entre aqueles dois senhores. Sob esta ótica, o momento captado pela fotografia se desdobrou nas décadas que se seguiram.
A internet, a rapidez com que chegam as informações, a facilidade com que entramos e saímos da vida das pessoas, tornaram momentos como aquela cena na esquina do grupão, algo raro de acontecer. As pessoas já não se encontram para trocar ideias, sentem dificuldade em criar amizades duradouras e nem percebem que a vida escorre depressa demais.
Para mim, esta foto diz muito. Conta que acabo de chegar na metade da vida. Grita para abrir os olhos e entender que é tudo muito passageiro.
Outro dia, botei a cara naquela janela branca que aparece do lado direito da imagem e vi Crezilda, filha de José da Silva, sentada bem em frente ao carro que aparece em segundo plano. Emocionada por dar-se conta de que aquelas pessoas que caminharam por ali já haviam partido, olhou para mim e disse: “Só sobrou eu aqui!” Aquilo me fez atinar que vivemos em um mundo tão rápido que não percebemos que a existência também é efêmera. Damos tanto valor ao poder, ao dinheiro, às nossas opiniões e aos produtos em promoção que não atinamos que isso aqui é tão instantâneo quanto a fotografia.
(Carlos Romero Carneiro)
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