(Por Jonas Costa)

Riscando o céu

As duas grandes chaminés da Cerâmica Regina se integraram à paisagem de Santa Rita do Sapucaí por mais de quatro décadas. Nesse período, a indústria de artefatos de barro empregou centenas de operários e chegou a figurar no rol das maiores empresas da cidade. O vistoso prédio da Cerâmica ocupava o número 263 da rua Major José Feliciano, a tradicional “rua dos Marques”.

Diariamente, os portões de madeira da fábrica se abriam para dar passagem a caminhões abarrotados de manilhas, tijolos comuns e furados, telhas francesas, coloniais e de beiral. As placas dos veículos, em sua maioria, continham nomes de municípios sul-mineiros, como Pouso Alegre, Itajubá e Ouro Fino. No interior do estabelecimento industrial, peças de vários matizes avermelhados eram cuidadosamente empilhadas ou enfileiradas, enquanto se transportava o barro em carrinhos de madeira num vai-e-vem sem fim. Antes do cozimento, as telhas passavam por secagem e tingiam o pátio com a cor laranja.

Alcides Rosa e a cerâmica

Alcides Rosa da Cunha conhecia cada centímetro quadrado da unidade fabril. Antes do nascimento da Cerâmica, ele trabalhava numa fazenda do fundador da empresa, Olavo Marques de Azevedo. Na década de 1930, deixou a lida no campo para se tornar oleiro. “Ajudei a criar a Cerâmica”, orgulha-se até hoje, aos 95 anos.

Quando Alcides estreou na produção de tijolos, a atividade era praticamente artesanal. O barro e a água eram misturados numa estrutura conhecida como “pipa” (roda de madeira movida por um burro). Nos primeiros tijolos, gravava-se o nome de José Trigo, responsável pela confecção das matrizes. O transporte da matéria-prima até a fábrica cabia a José Waldomiro.

A todo vapor

Percebendo que as encomendas cresciam e extrapolavam o Sul de Minas, Olavo Marques e seu sócio Miguel Ribeiro de Souza substituíram os procedimentos manuais por máquinas elétricas. As grandes e pesadas engrenagens aceleraram o ritmo de produção, mas provocaram a diminuição do número de funcionários. Alcides, braço direito de Olavo, não só se manteve empregado como foi promovido a chefe de produção e ainda arrendou a olaria com o auxílio dos filhos.

Alcides Rosa ficou célebre por sua rigidez no trabalho, mas fez grandes amigos na Cerâmica. O maior deles foi José Albino de Souza, que residia no início da rua dos Marques. O ex-chefe de produção se lembra também de Chiquinho Mariano, Antônio Barbieri, Benedito Humberto, Ditinho do Tanque e Flávio Lemos. Destes, somente os dois últimos a-inda vivem. Com 85 anos, Flávio Lemos conta que foi auxiliar de escritório da Cerâmica entre 1951 e 1970, época em que teve um “ótimo ambiente de trabalho”.

Imagens da Cerâmica Regina.

Tijolos da fábrica

A Cerâmica Regina recebeu este nome em homenagem a uma filha de Olavo Marques. Em novembro de 1945, o fundador da empresa homenageou seu filho mais ilustre, o capitão Paulo Cunha de Azevedo, promovendo uma festa popular nas dependências da fábrica para saudar os santarritenses que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

Após a morte de Olavo, seus descendentes passaram a administrar a Cerâmica. Mais tarde, vendido a Guilherme Sodré Alckmin, o prédio foi demolido para dar lugar à rua Dona Clélia Sodré Capistrano. Na memória de Alcides Rosa e Flávio Lemos, permanece viva a lembrança de um amplo galpão cujas chaminés sinalizavam o trabalho árduo de homens e mulheres que ajudaram a construir Santa Rita.

A rotina de trabalho no famoso empreendimento.
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