(Carlos Romero Carneiro)
Nascida no dia 22 de abril de 1923, Maria José Souza era filha de João Lustosa de Souza e de Letícia Poletti de Souza. Seu pai era muito severo e, mesmo após a separação, por não admitir que trabalhasse fora para ajudar nas despesas, não permitiu que a sua mãe se aproximasse das três filhas. O distanciamento das crianças provocaram feridas intensas em Letícia, agravadas por um internamento compulsório no sanatório de Barbacena por entenderem que a separação “desonrava a família”. Desamparada, morreu durante a internação, sendo considerada indigente, como era bem comum em instituições daquela natureza.
Após o falecimento da mãe, as três irmãs, Maria José, Maria do Carmo (Carminha) e Stela foram criadas por uma irmã de João Lustosa, chamada Mariquinha Souza. Além delas, outras seis crianças cresceriam sob os cuidados da famosa professora de Matemática, moradora de uma residência à Praça Santa Rita onde, hoje, está localizado o Edifício Mendonça.
Sob os cuidados de Mariquinha Souza, todas as crianças tiveram uma infância voltada à educação. O aprendizado vinha sempre em primeiro lugar e todos acabaram se tornando notáveis professores de matemática, assim como a tia.
Além de ensinar Matemática, Maria José também lecionava Educação Física. Por conta da segunda disciplina, era sempre chamada para – dentre outras atribuições – ensaiar as balizas dos desfiles de sete de setembro, na Escola Normal. Apesar de ser muito rígida com os alunos, talvez por conta das asperezas da vida, era também muito querida, tendo recebido diversos convites para ser paraninfa. Apaixonada por poesias e ótima pianista, era sempre requisitada para fazer declamações em festas. Um livro de poesias produzidas por ela ainda é guardado pela família e demonstra o quanto era sensível e talentosa. Gostava muito de ler e fazia com que todos os sobrinhos estivessem em contato com a literatura.
Junto das duas irmãs, fundou uma escola em casa, chamada Santa Terezinha. Hermes Moreira e José Francisco Rezek foram dois ilustres alunos matriculados nessa instituição de nível primário.
Maria José Souza casou-se com Vladas Urbanavicius: um caixeiro viajante que viria a escolher Santa Rita como moradia. Por sua comunicação precária, o marido recebia aulas de português de José Caponi na sala de jantar de Dona Mariquinha e se integrava, aos poucos, à comunidade. Sem filhos, o casal cuidou de uma menina de dois anos, sobrinha do lituano.
Quando Vladas montou um bar chamado “Bife de Ouro”, nas duas portas frontais do imóvel, o estabelecimento passou a ser frequentado por um bom número de fregueses. Naqueles tempos, Hermes Moreira, antigo aluno da Escola Santa Terezinha, trabalhava como garçom no bar frequentado por personalidades como Chico do Bilac, Garibaldi (Babá), Clóvis Amorim e outros. Há quem diga que teria vindo de Maria José o pedido a Sinhá Moreira para que ele tivesse apoio para seguir com os estudos.
Ao se mudar para a Barão do Rio Branco, local onde, hoje, está localizado o consultório do Doutor Élcio Murad, a distração de Maria José era promover bailinhos para a diversão da moçada. Discos e mais discos ganhavam espaço na vitrola, até que ela ficasse entediada e botasse todo mundo para correr.
Conhecida em toda a cidade, a professora tinha como amigas Maria José Vianna, Mariza de Azevedo, Ondina Azevedo Marques, Ordalina e Irene Faria, Lourdes Brigagão, Márcia Longuinho e outras.
Talvez pelas dificuldades que passou, Maria José era caridosa e adorava ajudar as crianças carentes. Não raramente, comprava peças de flanela e produzia pijamas ou pequenos paletós para serem doados às crianças da creche ou do Posto de Puericultura.
Quando o pai biológico veio buscar a filhinha adotiva, Maria José sofreu um impacto muito grande, o que mexeu profundamente com o seu emocional. Ninguém sabe o que a teria levado a se internar em um quarto do hospital no dia 8 de dezembro de 1970. José de Alencar teria comentado, mais tarde, que chegou a dizer à esposa que havia passado da hora de Maria José Souza se internar, quando tomou conhecimento de uma conversa entre as duas. Talvez por conta da imensa ansiedade ou, quem sabe, por conta das angústias que guardava para si, a professora havia desistido da vida mas – até aquele momento – ninguém havia percebido. Para não causar desgosto à sua tia e não dar trabalho, trancou-se no quarto do Hospital e decidiu tirar a própria vida. Doutor Edmundo foi quem deu a notícia à Mariquinha Souza e a atendeu quando o boato se espalhou. Foi um choque para todos. Ninguém imaginava que uma pessoa tão expansiva poderia estar no limite de suas forças. A cidade chorou quando Maria José Souza partiu, mas ela jamais foi esquecida. Ainda hoje, é lembrada com carinho por alunos, amigos e pessoas que tinham por ela amor e admiração. Esteja com Deus e em paz, saudosa Maria José Souza!
(Baseado no depoimento de sua sobrinha, Lenita Luna)
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