A sorte grande (Uma crônica de Elísio Rosa)

(Por Elísio Rosa)

Era frequente, em Santa Rita, a presença constante de parques de diversões ambulantes. Eles, geralmente, se instalavam num terreno baldio, ao lado da Escola Normal, na Av. Dr. Delfim Moreira. Naquela época, o cinema e os circos eram as grandes opções de entretenimento na cidade. Entre as múltiplas atrações do parque, havia barracas de jogos de argolas onde, sobre uma mesa larga e baixa, eram colocados cubos com equivalentes prendas para serem laçadas. Para laçar o cubo era difícil, devido ao justo diâmetro em relação à argola. Ao acertar, o felizardo levava o objeto correspondente ao cubo.

A mãe de Antônio pediu-lhe para jogar e ganhar alguns objetos. Antônio era um adolescente esperto. Pegou alguns centavos com a sua mãe e foi tentar a sorte nas argolas. Dona Santa era muito religiosa e disse ao filho: “Joga que eu fico rezando para você ganhar!” Antônio foi e jogou a argola e, na primeira jogada, laçou um cubo. Ele conseguiu ganhar uma panela. Dona Santa ficou eufórica e agradeceu aos santos. Novamente, ela pediu para o Antônio voltar e jogar. Ele foi, jogou e ganhou um bule. Dona Santa, convicta de que os santos estavam a ajudar, mais uma vez pediu ao Antônio para retornar. Ganhou uma frigideira. Ela queria agradecer aos santos e pediu para o menino voltar à barraca. Dessa vez, ela pediu que levasse uma imagem. O dono da barraca, indignado e carrancudo viu, mais uma vez, a sua perda.

Atendendo ao pedido de Antônio, deu-lhe – embrulhado num grosso papel – uma imagem. Ao chegar em casa, dona Santa, muito eufórica, começou a desembrulhar o pacote e teve uma surpresa infeliz. Não era uma imagem de santo, mas do capeta. Houve um rebuliço naquela casa e tudo veio abaixo… copos, talheres, quadros, panelas, cadeiras e outros objetos. Dona Santa enlouqueceu e se amuou num canto, muito serena. Antônio foi correndo chamar o padre, que veio apressado. Quando chegou, tudo estava normal. Não havia nada bagunçado e a estátua do capeta tinha sumido. O padre, indignado, disse ao Antônio: Você e sua mãe precisam ir à missa e se confessar. Ainda mais, Deus não gosta de criança mentirosa.

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