A paixão de Bá pelo time do coração vem de longe. Em uma época em que as duas agremiações mais conhecidas do país eram Santos e Botafogo, o menino acabou optando pelo alvinegro e passaria as tardes de domingo na casa do senhor Bilange – morador da rua da pedra e também fanático pelo botafogo – ouvindo as transmissões de rádio em que a grande estrela era ninguém menos que Mané Garrincha. Se seu time vencia, os comentários sobre a partida se estendiam até uma da manhã e só então Bá deixava a casa do amigo.
Embora fosse completamente aficionado por futebol, como jogador Bá não era nenhum craque. O garoto até arriscava jogadas como lateral direito, mas se posicionava melhor como torcedor. Ao completar a maioridade, chegou a morar em São Paulo – onde atuou como bancário e passou a frequentar os estádios quando seu time entrava em campo contra algum clube paulista. No tempo das vacas magras, como tinha que optar entre pegar condução ou comprar o ingresso, Bá andava até duas horas a pé, entre o centro da cidade (onde morava) e o parque Antártica, só para assistir às partidas.
Desde que montou seu Restaurante em Santa Rita, o empresário jamais escondeu a admiração pelo Botafogo e sempre fez questão de estampar o símbolo do time nas paredes do estabelecimento. Vez ou outra, algum engraçadinho ousa adentrar o recinto para proferir blasfêmias contra o seu clube. Se isso acontece, Bá se enfeza, fecha a cara e não deixa barato. Para ele, o cúmulo da provocação aconteceu quando um grupo de cruzeirenses foi ao restaurante, após derrotar o seu time, e começou a fazer trenzinho em torno das mesas. Foi a gota para que o comerciante colocasse todo mundo pra correr e baixasse a porta mais cedo. O mesmo aconteceu quando um flamenguista foi vender pães para o botafoguense, depois que seu time havia acabado de amargar um 6 a 0: “Aqui ninguém vai comer pão hoje, não!”.
Nas paredes do Bar e Restaurante do Bá, existem lembranças do clube por todos os cantos. Sempre que os fregueses encontram algo sobre a agremiação, presenteiam o amigo. De todas as relíquias, a maior é a camisa número 6, que pertenceu ao atacante Finazzi. O presente autografado foi trazido pelo senhor Afonso, pai do jogador, que sempre almoça lá, quando está de passagem por Santa Rita.
Em dias de domingo, para saber se o Botafogo se deu bem na rodada é muito fácil: se o time venceu, as luzes da casa do comerciante ficam acesas até terminar o último programa esportivo. Caso contrário, sete horas já está tudo apagado e todo mundo já foi pra cama.
Atualmente, a grande preocupação de Bá está relacionada aos netos. Todos eles já foram presenteados com uma camisa oficial, mas o fato de apenas dois de seus quatro filhos torcerem para o botafogo, pode colocar em risco a admiração pelo na família. Um de seus netos é corintiano, o outro é filho de vascaíno. Como seu genro, Roberto de Franco, não é tão fanático, as chances desse jogo virar são grandes. A nação botafoguense agradece.
(Carlos Magno Romero Carneiro)
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