Colunistas

A minha primeira Festa de Santa Rita

(Por Carlos Romero Carneiro)

Eu jamais me esqueci da primeira vez em que tomei contato com a Festa de Santa Rita. Não sei se eu tinha quatro ou cinco anos, mas lembro do espetáculo que foi para os meus olhos chegar à Praça Santa Rita toda iluminada e cheia de cores, aromas e sons. Os vários carrinhos de pipoca enfileirados em frente à igreja, com aquele aroma delicioso que se espalhava por toda a praça, tiravam a atenção dos fiéis, ao final da missa. Diferente de todos os outros, o colorido carrinho do senhor Pica quebrava o padrão com seus enfeites, buzinas e penduricalhos. Mas, naquela noite (ou seria tarde?) em que conheci a festa de Santa Rita, no início dos anos 80, minha lembrança mais forte é a de uma miniatura de um ônibus vermelho, com cerca de um metro de altura, “estacionado” em frente ao atual Edifício Santa Rita e que vendia um arroz rosado, em flocos. Pelos vidros do mini veículo dava para ver a guloseima e a criançada se esbaldava. Em frente à Bomboniere Renata, uma fila enorme de crianças que aguardavam, aflitas, para comprar balas e doces do senhor Raimundo. Como alegorias a enfeitar todo o espaço ao redor das velhas casas, os vendedores ambulantes erguiam enormes tubos de PVC repletos de balões, brinquedos infláveis, cataventos que giravam freneticamente e algodões-doces.

Crianças corriam por toda a parte! Meninas e meninos brincavam separados, mas havia centenas deles, ocupando toda a extensão do jardim. Do coreto enfeitado, colorido e repleto de cartuchos, doces, vinhos, brinquedos e outras prendas, ouvíamos os gritos estridentes do leiloeiro. Era um sujeito elegante, com os cabelos penteados para trás, bigode comprido e gravata borboleta. A fala frenética para atualizar os lances chamava a atenção da molecada, que parava pra ver e achava graça de tudo.

Um pouco mais abaixo, a fonte ainda funcionava com seus movimentos originais e chamava a atenção das pessoas de uma forma que eu nunca mais vi. Ainda não havia aquela grade que a contorna. Seus jatos de água apresentavam evoluções diversas e em alturas que variavam com o tempo. Muitas vezes, fios de água eram lançados próximo aos bancos, molhando os pés dos desatentos.

Na altura do Banco Bemge (atual Banco Itaú). o senhor João vendia um sorvete diferente de tudo o que conhecíamos. Você escolhia o sabor pela cor de algumas garrafinhas dispostas no alto da máquina e escorria o líquido que, em alguns segundos, se transformaria em um sorvete cremoso! Alguns anos depois, o senhor João começaria a vender também os churros que se transformariam em sua marca registrada.

Na década de 1980, as barracas ainda ocupavam o centro da cidade. Se amontoavam pelas ruas Antônio Paulino, Francisco Moreira e em frente ao mercado. Parecia tudo meio desordenado… tudo meio no improviso. O que a gente mais via eram barracas que batiam retrato da criançada montada em burrico pintado de zebra, em cavalinho de pau ou segurando uma imagem de Nossa Senhora. Após a revelação da fotografia, em tamanho de dois por dois centímetros, a microimagem impressa em plástico era colocada em um monóculo que o cliente mirava contra a luz e observava através de uma pequena lupa. E havia muitos daqueles monóculos dependurados em barracas com fundos pintados que remetiam à natureza ou à Nossa Senhora.

Outra atração muito concorrida era um ônibus estacionado no início da 13 de Maio, próximo à atual Sorveteria Itajubá. Crianças e adultos pagavam uma merrequinha para entrar e tinham acesso a um mundo curioso e desconhecido. Enguias eram usadas para acender lâmpadas, cobras de todos os tipos permaneciam amontadas em caixas de vidro, animais de duas cabeças eram expostos em aquários com formol e havia muitas outras curiosidades que o tempo cuidou de apagar da minha memória.
Outra atração imperdível era a tal Monga. Uma mulher bonita que, por um jogo de espelhos, se transformava em um Gorila de três metros (talvez um pouco menos…) para botar todo mundo para correr. Ao redor daquele caminhão transformado em palco em frente ao Mercado, permanecia o tempo todo apinhado de curiosos. Bem ao lado, dezenas de barraquinhas e outra pequena multidão em frente à Lanchonete do Modesto. Nas roletas de apostas, bobos (digo, apostadores) colocavam um Barão na casa em que queriam apostar (geralmente dois times), alguém girava a roleta e esperava o resultado. A banca levava a sua parte e, se a roleta caísse no time em que havia apostado, a bufunfa dos derrotados era rateada entre os vencedores.

E quando chegava a noite de 22 de maio, uma multidão que ninguém sabia de onde havia surgido se preparava para a procissão. Todo mundo com velas acesas nas mãos. E o cortejo ganhava as ruas da cidade com orações e cantorias. De qualquer ponto da cidade, ouvíamos o glorioso “VIVA SANTA RITAAA” – bradado pelo nosso amado Padre José.

No dia seguinte, tudo ia voltando ao normal em nossa querida Santa Rita. A fedentina começava a desaparecer da frente das casas, a população retornava ao cotidiano, os barraqueiros caçavam o rumo e os palcos eram desmontados. Já as crianças, apareciam na escola com relojinhos que se transformavam em robôs, bombons de parafina, meias coloridas, toucas de pompom, Ki-Sucos de giárdia em brinquedos plásticos, petecas de serragem e outros apetrechos indispensáveis à nossa vida cotidiana.

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