A dupla Jiló e Berinjela

(Por Rita Seda)

No meu quintal eu tenho muitas flores. Desde as singelas violetinhas de chão, aquelas azuis, perfumadas, até as sofisticadas orquídeas. É um modo agradável de preencher o tempo com coisas bonitas, vivendo em harmonia com a natureza. Um modo de aprender a esperar o tempo de cada plantinha que a gente põe a muda ou a semente no solo. E se emocionar com o primeiro botão ou se surpreender com o perfume da nova flor. E planto, também, os meus legumes e hortaliças. Não me faltam os cheiros verdes na cozinha e as folhinhas para fazer um gostoso chá. Ou os chás para curar alguma dor ou uma gripe nossa ou de alguém. Achei engraçado o que me aconteceu há algum tempo, quando fui plantar berinjela. Comprei três mudinhas no Arildo porque, mais do que isso, seria exagero para a minha pequena horta. Ao dar a primeira flor, fiquei esperando surgir a roxa berinjela, mas o que apareceu foi um jiló verdinho. Achei graça e corri para comprar muda daquele legume que queria. Ivon gostou, pois ama jiló. Dessa vez, acertei. Quando as primeiras flores brotaram, logo vi que estava certa. Não eram amarelas, mas roxas… Deu uma berinjela que não parou mais e está dando até hoje. E haja gente para comer as berinjelas! Uma delas cresceu tanto que surpreendeu a todos da família. E foi no cultivo desses dois legumes que eu me lembrei de um casal que existiu em Santa Rita, nos anos sessenta e setenta. Naquele tempo, era como um ritual. Todo sábado, os “pedidores de esmola” (assim eram chamados) saiam de casa em casa. Eu tinha uma pena enorme. Não havia aposentadoria para esses coitados que tinham certa deficiência ou doença e a solução era pedir de casa em casa. Via de regra, eram bem recebidos por todos e sempre ganhavam algum alimento. E via de regra, certos apelidos também… Agora entendi um pouquinho o porquê do apelido de dois deles… Levavam um utensílio que, para mim, era, no mínimo, estranho: um saco de pano com diversas divisões costuradas. Se, numa casa, ganhavam um punhado de arroz, (sim, o povo dava de punhadinhos) havia um lugarzinho para depositar o arroz, outro para o feijão, a farinha, o fubá, o açúcar e nada se misturava. Claro que havia um compartimento para as moedas, mas era pequeno porque quase ninguém dava dinheiro. Aos poucos, foram rareando estes coitados que ganhavam a vida esmolando. Graças a Deus! Ninguém merece. Porém, quem viveu aqueles anos há de se lembrar de um casal que, de tanto se encontrar na rua pedindo esmolas, acabou se casando e indo morar numa casinha do asilo. Fizeram história! Quem não se lembra do Jiló e da Berinjela?

Recent Posts

De Santa Rita ao Acre: a história de um reencontro ao som do acordeon

(Caio Vono) No final dos anos 40 e início dos 50, a dupla Xerém e…

2 semanas ago

Multinacional chinesa terá fábrica de motores em Santa Rita do Sapucaí

Santa Rita do Sapucaí está prestes a receber um importante impulso econômico com o anúncio…

2 semanas ago

O causo do professor de artes, na Escola Normal

(Elísio Pamphiro Rosa) No fim da década de cinquenta, o Secretário Estadual de Educação de…

2 semanas ago

A bailarina do braços invisíveis

(Por Patrícia Vigilato) O ballet clássico surgiu nas cortes italianas no início do século XVI,…

2 semanas ago

A história do santa-ritense conhecido como “herói da esquina maldita”

(Por Osmar Freitas Júnior) Durante o período Médici, representantes de todas as tendências políticas de…

2 semanas ago

O benzimento em Santa Rita do Sapucaí

(Por Patrícia Vigilato) Esse texto é fruto da serendipidade. Isto é, quando descobrimos ou encontramos…

2 semanas ago