Colunistas

A capela de São Sebastião, na Rua do Queima

(Carlos Romero Carneiro)

Como aconteceu com tantos imigrantes, Wady Abdala e sua esposa, Jamile Rezeck, vieram do Líbano, por volta de 1920, em busca de vida nova, deixando para trás parentes, amigos, a cultura nômade de seu povo, e o pouco que pudessem possuir. Aquela travessia era irreversível… davam adeus para nunca mais voltar, como aconteceu com quase todos eles, que encontraram uma boa receptividade dos brasileiros.
Se estavam acostumados a viver em movimento, saltar para um continente em transformação, com língua totalmente diferente e um estilo de vida diverso, era um desafio extraordinário, mas que ajudou a delinear um pouco da nova Santa Rita do Sapucaí que começava a surgir, após a chegada da estrada de ferro.

Por viverem em Baalbek, cidade distante dos grandes centros da época, como Beirute e Damasco, viajaram quase um mês de camelo para chegarem a um porto que os levaria ao “novo mundo”. Por já terem alguns irmãos que haviam se instalado à Rua Silvestre Ferraz, já tinham destino certo. A viagem, no porão do navio, durou dois meses, mas valeu a travessia. A colônia libanesa era extensa em Santa Rita e já estava estabelecida como importantes comerciantes que conheciam muito bem os melhores fornecedores do país.

Os libaneses se casaram em Santa Rita do Sapucaí, mas se mudaram para Carmo da Cachoeira, antes de se estabelecerem à Rua do Queima, ao lado do Bar Ideal. Tiveram três filhos: Abdala, Carmem e Regina.
Depois de algum tempo na cidade, o prédio onde havia funcionado um hotel, também na Rua do Queima, foi colocado à venda e foi adquirido pelo comerciante Wady Abdala que, aos poucos, foi melhorando de vida. Dentro da casa que compraram, que até hoje é ocupada por um descendente dos libaneses, encontram uma grande imagem de São Sebastião, entalhada em madeira. Ninguém sabe quem deixou a imagem no local, ou como ela foi parar ali, mas aquilo inspirou o casal a construir uma pequena capela, por volta dos anos 1940, no terreno à direita da residência, que também pertencia a eles.
Como eram colaboradores da igreja de São Benedito, acredita-se que alguns elementos, como porta e sino, tenham sido trazidos da primeira construção do antigo templo situado às margens do Córrego do Mosquito. Ali, passaram a realizar rezas, quermesses, terços e festividades. No mês de junho, a comunidade se reunia para distribuir roscas, doces, pipoca, quentão e outras guloseimas. Ao som da sanfona, os moradores do bairro dançavam quadrilha e iniciavam o baile, bem no meio da rua.

Wady Abdala, dona Jamile e filhos

Ainda hoje, quem passa pelo local, pode perceber que a mesma imagem em madeira rústica encontrada pelos libaneses permanece no local. Indiferente às transformações acontecidas na cidade e também na própria Rua Capitão Vicente Ribeiro do Vale, ainda é possível notar aquele relicário, verdadeira jóia incrustada ao lado da casa dos libaneses, que tal como foi adquirida, guarda os mesmos traços da primeira metade do século XX. Muito bem cuidada por Regina Abdala (filha de Wady e Jamile) e também por Rita Valéria e outros descendentes, a capelinha tornou-se um dos pontos mais atrativos de Santa Rita do Sapucaí e ainda conserva o pequeno sino, disposto bem no alto da construção.

(Nossos agradecimentos à Rita Valéria Mesquita Antônio, neta de Wady e Jamile, pelas informações para publicação desta matéria)

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