(Por Rita Seda)
Dia desses, pela Internet, recebi fotos e frases de Portugal, com a intenção de provocar risos e caçoadas. Entre as fotos, uma que poderia se dizer que é de nossa terra, feita em uma de nossas ruas… Lembrei-me do carinho de nossos concidadãos pela “sua” árvore e resolvi prestar uma homenagem a ela e a eles…Na terra das Sapucaias há uma peculiaridade vegetal no mínimo curiosa: uma grande árvore no meio da Rua João Rennó. Bem em frente da casa que Tonhão construiu e viveu muitos anos. A rua não é larga: é comum como quase todas as ruas da cidade. Ao passar por ela, de carro, só cabe um de cada lado da tal árvore. Tonhão contou-me que ali era um local cheio de vegetação. A rua foi espichando para abrigar mais casas e a vegetação foi sendo sacrificada. Mas era tão linda aquela árvore que as serras não ousaram tocá-la. A rua continuou o seu itinerário rumo ao desenvolvimento, casas e mais casas foram construídas. Veio o calçamento, foram construídas calçadas para os pedestres, mas a árvore permaneceu firme onde nascera. Foi feita uma proteção em volta de seu tronco e plantadas flores. Contou-me que já foram celebradas missas sob sua copa, celebrando algum fato notável para a vizinhança, o que aumentou ainda mais a sua importância para eles. Claro que já houve o perigo de cortá-la. O ato só não foi consumado porque os moradores se opuseram com forte clamor. Ela faz parte da paisagem. Ela tem vida e dá vida, em forma de beleza, oxigênio, sombra e companhia. É reconhecida, admirada e amada, não só pelos vizinhos, pássaros e borboletas, pelos habitantes da comprida rua, mas também pela maioria dos cidadãos, que quando se referem a algum morador ou loja daquela rua, vão logo dizendo:-É antes (ou depois) da Árvore! Ou ainda:- Fica pertinho da árvore! É dignificante observar tanto amor a uma árvore, respeitada, embora esteja fincada no meio de uma via pública, quando tantos sacrificam outras, em locais onde não atrapalham em nada o cidadão. Mas acontece. Certa vez, uma empreiteira que trabalhava para a companhia energética, com a desculpa dos galhos estarem quase atingindo os fios de eletricidade, sem nos comunicar, invadiram a nossa chácara e cortaram os nossos ipês novinhos, os da beira da cerca, onde havia o perigo de atrapalhar a rede. Não satisfeitos, cortaram outras árvores, que nada atrapalhariam. Bem, as árvores tinham sido plantadas antes dos fios. Como poderíamos adivinhar que colocariam os postes do nosso lado? E não tinham obrigação de, antes, falar conosco? Nessa gracinha cortaram um pé de ipê branco que eu nunca mais consegui muda. Coisas da vida! Tiramos fotos, demos queixa à companhia eletrificadora que, é claro, eximiu-se de culpa e culpou a empresa contratada por ela. Em cidades grandes e capitais, tenho visto árvores debaixo da fiação elétrica, podadas para não tocarem os fios. São verificadas de tempos em tempos. Atitude corretíssima. A árvore não raciocina. Se ela causa acidente é por culpa de quem tem a responsabilidade de cuidar. Lembro-me que cantávamos no primário: “Salve, ó árvore bendita, que dás fruto, aroma e cor…” Parabéns, moradores da Rua João Rennó por seu respeito à natureza! E parabéns a Portugal. Não sei se seguiu o exemplo ou se o deu aos nossos conterrâneos, mas que é lindo, garanto que é!
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