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A trajetória de Manoel Barata

A vida de Manoel Barata Antunes teve início como a da maioria dos imigrantes que escolheram o Brasil como segunda pátria. Da freguezia de São Cristóvão, em Lisboa (Portugal), o menino de 11 anos vinha com sua família – pouco antes da segunda guerra – em busca de novas oportunidades.

Ao desembarcar do Vapor Áustria, no dia 28 de janeiro de 1934, Manoel apresentou o Passaporte da República Portuguesa, acompanhado de um Certificado do Consulado Geral de Portugal.

Em 11 de novembro de 1939, foi expedida pela Polícia do Estado de Minas Gerais, certidão de registro de estrangeiros a seu pai – estabelecido no Rio de Janeiro – e aos cinco de seus fi-lhos. Já sua mãe e suas duas irmãs foram trazidas ao Brasil algum tempo depois.
Pouco depois de vir ao Brasil, a Família de Manoel já havia aberto sua primeira firma de comércio de aves e ovos, a Barata, Neves e Cia”. A empresa estava localizada na Estrada da Portela e era formada por 7 sócios: seu pai, seus tios e irmãos.

Jovem, astuto e com muita força de vontade, Manoel Barata foi o escolhido pelo pai para expandir os negócios em Minas Gerais. Antes de chegar a Santa Rita do Sapucaí – Terra em que vive-ria 59 dos 64 anos de vida comercial – o comerciante ainda passou por Cachoeira de Minas e Borda. Foi aqui que seus negócios prosperaram como nunca e que ele sentiu que já era o momento de trazer de Portugal sua namorada: Natividade. O casamento aconteceria no dia 6 de janeiro de 1941.

O primeiro comércio de Manoel Barata na cidade foi na Rua da Ponte, local preferido dos imigrantes que se mudavam para Santa Rita. Nessa época, vivia em uma pensão bem ao lado da família Baldoni, vizinha de seu estabelecimento. Pouco antes de se casar, ainda chegou a viver também em uma pousada da família Cleto. Ali ficou até se estabelecer, definitivamente na Rua Antônio Teles, 141 – uma das entradas antigas da cidade. Semanalmente, partiam da “Rua da Pedra” centenas de aves e ovos, através da Rede Mineira de Viação, para abastecer a firma no Rio de Janeiro. Além das vendas na antiga capital do país, diversos comerciantes vinham a Santa Rita para comprar as aves produzidas em sua granja, nos fundos de sua residência.

Em 1954, desolado pela perda de um de seus 6 filhos, Manoel decidiu arrendar seu comércio e fazer uma viagem de volta a Portugal, na companhia da esposa e dos 5 filhos. Sua família permaneceu na Europa por 10 meses, até que decidiram que já era o momento de retornar a Santa Rita.

Antes de extinguir a “Barata, Neves e Cia”, com seu pai, tios e outro sócio já falecidos, Manoel montou sociedade com um dos irmãos com quem abriu outra firma em São João do Meriti. No início, todo o transporte daqui para o Rio de Janeiro era feito através de linha férrea. Em seguida, a mercadoria passou a ser transportada pelo caminhões do Sr. Arnaud Ribeiro e depois pelo Sr. Jorge Andery. Em 1955, o Sr. Manoel Barata conquistou um veículo próprio e passou a transportar a própria mercadoria.

Em 1975, já com granja montada, Manoel passou a atender em sua nova empresa “Aviário Luxo de Minas Gerais”, situada à beira da estrada velha da Pavuna – 3946 – em sociedade com seus filhos Ataíde Barata Antunes e Manoel Barata Antunes Filho. Após 48 anos de atividade, Manoel Barata e seus filhos abriram o famoso “Armazém do Baratinha”, no ano de 1982, ao lado de sua residência na Rua da Pedra.

Em 1964, como forma de demonstrar todo o seu amor pela padroeira e por nossos conterrâneos, Manoel Barata conseguiu realizar um antigo sonho: ser festeiro da festa de Santa Rita. Foi uma das maiores emoções daquela família tão querida e que nunca mediu esforçou para engrandecer a cidade que os acolheu como verdadeiros filhos.

Em 1998, Manoel Barata Antunes faleceu, aos 85 anos de idade, deixando 5 filhos, 9 netos e 6 bisnetos. Já viúvo, o querido comerciante que passou décadas transportando as aves de sua granja para a antiga capital, enlutou a cidade toda quando partiu para o Rio de Janeiro, para ser sepultado no túmulo da família, a pedido da irmã. No entanto, aqui ficou seu coração. A memória do grande homem permaneceria para sempre guardada entre as montanhas do Vale do Sapucaí.

(Por Carlos Romero Carneiro)

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